segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Meu irmão é filho único

Quando vi o trailer no cinema, achei que seria mais um filme histórico político chato. Realizado na Itália, país muito prejudicado pela guerra e influenciado até hoje pelo seu passado, o filme novo de Daniele Luchetti narra a história de dois irmãos que, durante as décadas de 60 e 70, entram em conflito por defenderem duas bandeiras políticas diferentes, o comunismo e o (pós) fascismo. Logo pensei que seria algo como o Brasil e suas milhares de histórias sobre a ditadura, ou seja, fortes chances de ser algo repetitivo e pessoal demais para gerar interesse a pessoas de fora do contexto.

Mas o que obtive foi um filme agradável e criativo, com uma forte sensibilidade ao criar os vínculos familiares dos personagens, uma interessante discussão sobre essas duas correntes políticas e um pouco mais de conhecimento sobre tal momento na Itália.

Apesar de ser um pouco clichê essa idéia de apresentar os movimentos políticos em questão através de irmãos que seguem caminhos diferentes e que, pra piorar, se apaixonam pela mesma mulher, o filme inexplicavelmente consegue ultrapassar esse esquema e se mostrar cativante.

Um dos maiores motivos de seu melhor funcionamento (do que eu esperava) é a atuação e a presença do ator principal, Elio Germano, cujo personagem de personalidade forte carrega sozinho a história, apresentando-nos tudo e todos. Ainda que um pouco ríspido às vezes e claramente errado nas suas escolhas políticas, Accio (Germano) é carismático, consegue se fazer entender e até passar seu ponto de vista de forma coerente.

A evolução temporal flui de maneira delicada. Podemos ver a progressão dos personagens e dos acontecimentos de forma muito clara. O tempo é muito bem explorado, desde o tempo geral que engloba acontecimentos maiores e mais marcantes, àquele contido nas cenas, no desenrolar das mesmas.

A relação dos três envolvidos no triângulo amoroso é suave, sutil até. Não assume um caráter trágico em si (apesar de haver acontecimentos um pouco drásticos) e nem uma importância demasiada que nos desviaria do assunto principal: o debate sobre esse momento italiano tão recente e problemático.

A narração em off que nos acompanha durante toda a narrativa mostrando o ponto de vista do protagonista nos ajuda a seguirmos junto a ele, compreendendo suas escolhas, ainda que não necessariamente concordando com elas e nos aproximando mais daquela realidade.

Outro fator que ajuda bastante é a não breguice. O filme não cai em clichês de atuação, de falas ou de momentos novelescos, como normalmente se vê em histórias como essa.

Há momentos líricos, de reflexão, como um belo momento próximo do fim, em que os dois atores que representaram Accio, o protagonista, em diferentes idades dividem o plano. A trilha sonora ajuda também a gerar a suavidade das imagens.

No geral, um filme político sim e com personagens e situações clichês esperadas de uma família italiana espalhafatosa, mas que consegue transcender sua condição e possibilita uma viagem interessante e gostosa até o final.

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