quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Jason Reitman concorre ao Oscar com seu terceiro longa

“Up in the air”, traduzido como “Amor sem escalas” aqui no Brasil, é o mais recente longa de Jason Reitman. Este jovem diretor começou desde o início de sua carreira com o pé direito, desde sua estréia com “Obrigado por fumar”, passando por “Juno” e agora com seu filme concorrendo ao Oscar e ele mesmo a melhor diretor.
Fui assisti-lo ontem, no Odeon, com muitas expectativas e creio que talvez esse tenha sido o mal. Esperava um filme incrível, um “Embriagado de Amor”, algo que me tirasse do chão e me devolvesse só no fim. O que encontrei foi um bom filme, com um jeito metódico de edição, condizente com muitos diretores desta geração, ótimas atuações e uma trilha sonora deliciosa, cheia de rocks calmos e melódicos, tendendo para algo indie como Belle and Sebastian às vezes, e outras ao rock clássico dos anos 60.
Bem, agora que já abaixei as expectativas um pouco de quem ainda não assistiu, vou complementar o que escrevi com mais alguns detalhes para tentar fazer voltar aquela vontade de ir ao cinema conferir.
“Amor sem escalas” é uma comédia/drama romântico. Possui o típico roteiro de mudança interna do protagonista. Mas o faz muito bem.
Ryan Bingham trabalha numa empresa contratada para demitir funcionários de outras empresas. Para isso, passa mais da metade do ano viajando para diferentes cidades dos Estados Unidos. Uma vida que poderia parecer solitária para alguns é para ele exatamente o que desejaria. Ryan considera o “ar” sua casa, os aeroportos seu porto seguro. Não possui vínculos fortes com ninguém, nem mesmo sua família.
Um outro ponto interessante são os cartões de fidelidade e sua obsessão com a contagem de milhas. Para ele, tal reconhecimento e tais pontuações são mais importantes do que qualquer relação. São seguros e objetivos.
Até que uma novata adentra seu território e tenta mudar as regras do jogo. Numa tentativa de prová-la errada, se vê obrigado a ensiná-la seus métodos e acaba entrando em contato com outras ideologias de vida. No meio desse processo, claro, conhece uma mulher e a partir daí tudo se desenrola.
A grande questão do filme me parece ser uma reflexão universal, já desenvolvida de diversas e múltiplas formas: ninguém pode ser sozinho. Numa discussão chave, o personagem de George Clooney coloca seus argumentos na mesa – não preciso de amigos para ter com quem conversar, quase todos os casamentos terminam mal, todos nós morremos sozinhos – em contraposição aos de Anna Kendrick – todos precisamos de alguém para contar, de alguém para dividir nossa vida, de amor, de estabilidade. Esses dois valores são postos em conflito e aí vem um dos grandes trunfos do roteiro, pra mim: a percepção de que mesmo que escolhamos o caminho contrário ao solitário e da auto-suficiência, nem sempre este será um caminho fácil ou dado de bandeja. Ou melhor, é mais fácil sim seguir por um trajeto desvinculado, exije menos trabalho, mas não necessariamente é mais gratificante.
Para complementar, vem uma de minhas falas favoritas, numa seqüência um tanto quanto forçada para encaixá-la, quando Ryan está tentando convencer o futuro marido de sua irmã a prosseguir com o casamento. Ele diz que nada faz sentido: a vida, o que construímos, nosso trabalho, nada disso faz sentido porque vamos todos eventualmente morrer. Mas tendo isso em mente como garantido, o máximo que podemos fazer é aproveitar os bons momentos, e estes costumam vir em pacotes conjuntos, com aqueles que amamos.
O que me comoveu bastante foram os depoimentos das pessoas que teriam sido demitidas no começo do filme, falando sobre como estariam superando ou agüentando a situação. Todas elas mencionam suas famílias, seus filhos, seus companheiros, pessoas amadas.
O filme consegue ser atual, reconhecendo que essa situação de crise existe, que empresas cretinas contratadas para demitir funcionários alheios também continuarão existindo, mas mostra que enquanto existir amor, solidariedade e, enfim, pessoas com quem podemos contar, haverá esperança e possibilidade de continuar. E de qualquer forma, mesmo admitindo essa dura realidade, se opõe a ela de diversas formas e ainda oferece alternativas: a idéia absurda das demissões via Internet é retraída por causa do suicídio de uma funcionária, a auto demissão da personagem de Anna Kendrick e o tão esperado ato de liberdade de Ryan Bingham.
Então, apesar de ser um filme claramente com um propósito e de, em muitos momentos, ser “friamente calculado”, nos oferece momentos verdadeiros que o salvam, conseguindo finalmente mais para o desfecho, nos embarcar.