segunda-feira, 2 de junho de 2008

Não por acaso

Não por acaso

Phillippe Barcinski, advindo do mundo da publicidade, estreou no mundo dos longas-metragens com o filme “Não por acaso”.

Esse filme, estrelado por Rodrigo Santoro, Letícia Sabatela e Leonardo Medeiros, trata sobre o acaso, como diz o nome. O acaso como fatalidade, como acidente, algo que não há como ser previsto ou evitado. E que muitas vezes nos traz tristezas, nos causa dor. Levando ao pé da letra, o sentido do título com relação ao desenvolver da história, seria sobre como se apesar desses acontecimentos que estão fora de nosso alcance poderem nos trazer sofrimento, haveria, por trás, algum funcionamento obscuro que faria tudo voltar a funcionar. Como: há coincidências, que trazem coincidências. Algo como "há males que vêm pro bem". Como num fluxo que se renova.

Para citar duas situações do filme, eu diria: algo fluido, como os carros, que mais parecem fluxos de água passando por um encanamento. Então, em um momento, algo emperra no caminho e o fluxo pára... até tudo se acalmar de novo e a água voltar a escoar livremente. Mas esse percurso é imprevisível. Os danos que um problema lá na frente gera nos que estão lá atrás é incontrolável. E assim, na vida. O que me leva a segunda citação: dois segundos fazem diferença.

Resumidamente, devido a minha clara dificuldade, inabilidade e inaptidão em determinar o conteúdo real da sinopse desse filme, essa história nos mostra um pouco como lidar com o que está além de nosso controle. Como se, em vez de só sofrermos e não aceitarmos o que nos acontece, talvez houvesse como dar voz ao acaso, ao contingente. Em uma grande divagação, algo como o que Nietzsche nos diria. Trazendo para algo mais palpável, a perda muitas vezes nos fortalece e o amor nos ajuda nesse processo.
Mas não é só isso. O filme mostra também que não devemos esperar necessariamente que o destino bagunce com nossos planos. É bom tomarmos iniciativas próprias. Termos algum controle sobre nossas vidas. E isso os personagens aprendem.

“Não por acaso” fala sobre duas histórias paralelas que se unem em um instante, devido a um acidente de carro. Tanto Leonardo Medeiros (Ênio), como Rodrigo Santoro (Pedro) perdem pessoas importantes de suas vidas em frações de segundos. Assim. Sem mais nem menos. Ambos são pessoas racionais que vivem seu dia a dia em um mundo fechado e controlado, envolvendo repetição e lógica, seja a profissão de controlador de tráfego de um ou a matemática da sinuca de outro. E os dois seguem suas vidas aos poucos, de sua maneira, cada. Nos dois casos, a fatalidade justifica um pouco os rumos que suas vidas tomaram, dando ênfase ao título. Ironicamente, uma das mudanças se dá devido a um problema de encanamento.

A parte técnica realmente me impressionou. A direção de arte é ótima, com suas cores que permeiam o azul, o branco, o bege e o cinza, gerando uma atmosfera fria, de solidão e de sobriedade. É interessante ver a mudança de figurino e de luz à medida que o personagem de Ênio, por exemplo, vai mudando, vai se abrindo pra vida.

A fotografia foi feita por Pedro Farkas, que soube aproveitar bem esses tons claros e neutros, assim como teve maestria nos enquadramentos. Há muitos pequenos detalhes, pequenos gestos, olhares que definem as cenas. E tudo isso é muito bem captado. Algumas situações como desfocados, os personagens sendo introduzidos ao quadro através de suas sombras ou a sobreposição das imagens, dando idéia de “delay”, também são ótimas intervenções da imagem.

A narrativa soube contar bem através de poucas palavras. Como o que eu considero um bom filme, as imagens falam por si só. Nada que não precisa ser dito é dito. Muitas coisas estão subentendidas pelos momentos de silêncio, pelos enquadramentos, pelos planos parados, etc.

Ainda em relação à fotografia, a escolha de planos do filme mostra como Phillippe é experiente e cuidadoso em relação a decupagem, usando bastantes closes ou planos próximos, e boas resoluções como: planos de cima, super gerais da cidade, dentre outros. Há também alguns “efeitos”, como nas cenas da sinuca. Tudo na intenção de deixar a imagem narrar por si só.

Nem por isso o som fica em segundo plano. A música, em sua maioria instrumental, mas também dividida com algumas canções interpretadas por Nasi, Céu e Kátia B dão o tom certo ao desenrolar da história. Ademais, o som ambiente e as vozes foram muito bem captadas e mixadas.

Os atores estão ótimos. Em especial, Leonardo Medeiros, que sempre rouba a cena em seus papéis e Rodrigo, que consegue cada vez mais, se modificar de acordo com o que lhe é demandado. A construção de personagens pode ser percebida em cada detalhe, desde o modo de falar, até o jeito de andar, de sorrir, de pausar, enfim. O olhar franzido de Rodrigo e os olhos apreensivos de Leonardo dizem tudo.

Enfim, mais um bom filme brasileiro, que não só consegue emocionar através dos “pesares narrativos”, como também passar uma boa sensação ao final.

Um comentário:

Miniquelb, Hiperativado. disse...

Ah! Li tudo! Ha!
Lembra o que eu falei q ia fazer? então, ta feito.
http://miniquelb.blogspot.com/
XD