domingo, 8 de junho de 2008

Altman e a Música

Robert Altman nutria um fascínio pela música. Desde o início dessa mostra no CCBB que recapitula seus filmes, vi 12, além dos outros 8 que já tinha visto. Sinto-me razoavelmente mais conhecedora de Altman, ainda que leiga e tendo que conhecer muito mais e rever muito mais suas obras para falar com categoria sobre qualquer coisa a seu respeito. Mas vou arriscar esse palpite em relação à música, tendo em vista que os últimos três filmes que vi dele têm como base ou pano de fundo um grande número de apresentações musicais.

“Nashville” gira em torno da música tradicional do sul dos EUA. Começa com uma gravação de estúdio de um cantor country e termina com um grupo de pessoas cantando num comício político. Entre isso, vemos várias outras performances, seja de trios de folk, da “rainha do country”, etc. E a música não é apenas uma anedota no meio da cena. Ela é um complemento à narrativa. Muitas vezes tem forte significado para a história ou para entendermos os personagens.

“Jazz ’34” retrata uma época presenciada por Altman na sua infância: Kansas City nos anos 30 e seus clubes de Jazz. Em uma hora e quinze de filme, vemos um grupo de músicos tocando seus diferentes instrumentos: clarinete, contra-baixo, saxofone, piano, violão, bateria... Todos juntos improvisando diferentes sons e ritmos numa harmonia jazzística sem igual. Ao longo das performances ouvimos (em off) algumas frases curtas de alguns deles fazendo comentários e relembrando essa época.

Não há personagens claramente definidos, não há falas, nem um roteiro, mas conseguimos construir uma narrativa na nossa cabeça através das imagens. Cenas de sedução, de admiração entre os músicos, de rivalidades e disputas entre saxofonistas dão um contexto mais emocionante ao filme. Tudo isso muito bem filmado e captado, seja na imagem ou no som. Como todos os ângulos pareceram acontecer num take só, fiz as contas e concluí que Altman utilizou três câmeras posicionadas em locais diferentes, mas todas filmando ao mesmo tempo. Enfim, um puro deleite aos olhos e aos ouvidos.

“Um Casal Perfeito” parece ser um dos primeiros filmes sobre casais formados através dessas agências de relacionamento de acordo com os perfis. Segue as regras das comédias românticas mais comuns, mas se diferenciam pelo... casal. Ao invés de atores famosos e bonitos, são duas pessoas bastante ordinárias e desinteressantes visualmente.

Bem, vamos a uma rápida sinopse: um homem e uma mulher que parecem não ter nada a ver um com o outro se conhecem e, como numa surpresa, até mesmo pra eles, se dão bem. Para ficarem juntos vão ter que passar por cima de vários problemas e desencontros. Mas não pensem que esqueci a música não.

A moça, interpretada pela esquelética Marta Heflin, é uma “backup singer” num conjunto bem típico dos anos oitenta, “Keepin’ ‘em off the Streets”, com aquelas formações de banda que misturam homens e mulheres, um constante som de teclado, vozes solos poderosas, dentre outras características. Vou usar ABBA ou Mammas and the Pappas como referência, apesar de ser uma comparação fraca e ineficiente.

Mais uma vez as apresentações são muito bem aproveitadas e enfatizadas, não empacando a narrativa ou se servindo de falsos pretextos para acontecerem.

“A última noite” se passa na noite de despedida de uma rádio, então não preciso nem comentar como as performances são importantes e presentes.

Em relação aos outros filmes, pode não haver uma ênfase tão explícita na música como os mencionados, mas ela aparece quase sempre como um personagem. Seja em “Onde os homens são homens” ou “Voar é com os pássaros”, onde ela aparece como um coro que comenta a história. Ou em “No assombroso mundo da lua” como trilha sonora tensa. Ou em pequenas performances significativas para a história como “Os delinqüentes”, seu primeiro longa-metragem. Ou em musicais propriamente ditos como “Popeye”.

Enfim, espero tê-los convencido da inclinação musical de Robert Altman. E deixado-os um pouco mais curiosos em relação à obra ainda pouco conhecida desse fantástico e diversificado diretor de cinema.

Um comentário:

DeadPool disse...

pelo menos o avião não caiu.
só li o de são paulo por enquanto, depois leio alguns outros.
bjs