quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Listagem Festival do Rio

Quase uma semana depois do término das atividades "Festivalísticas", a cidade começa a voltar ao normal. Um feriado para acalmar e colocar todos em dia com suas rotinas diárias.
Esta que vos fala, Raquel, acabou não conseguindo escrever durante as duas semanas do Festival do Rio porque estava trabalhando no mesmo. Sendo assim, minha rotina se dividia entre trabalhar, ver filmes e descansar por 4 horas, quando possível.
Isso não quer dizer, entretanto, que eu tenha esquecido minhas obrigações para com o site e para com qualquer pessoa interessada em saber sobre os resultados e impressões em meio aos 300 filmes estrangeiros e nacionais da décida edição do evento.
Por isso, resolvi destacar os melhores filmes dos 52 que assisti. Se possível, também prevenir contra algumas bombas e comentar sobre o grande número que fica naquele limbo entre o medíocre e o aceitável.

As três preciosidades do cinema nacional:
  • O Amor segundo B. Schianberg
  • Os Famosos e os Duendes da morte
  • Viajo porque preciso, Volto porque te amo
Curta brasileiro que se destacou:
  • Bom dia, meu nome é sheila ou como trabalhar em telemarketing e ganhar um vale-coxinha
Melhores Documentários:
  • American Boy / American Prince
  • When you`re strange
  • Doutrina do Choque
  • It might get loud
Filme com temática gay:
  • Sinos Silenciosos
Filmes interessantes pela temática:
  • Nollywood Babilonia
  • Os Yes Men Consertam o Mundo
Filme Biográfico do ano:
  • Amália
Filmes que decepcionaram:
  • Tokyo
  • Aventura Erótica
  • O ultimo verao de la boyita
  • O dia da saia
  • Maradona
Filmes no limbo:
  • eu matei minha mãe
  • Sem vc nao sou ninguem
  • trafico de almas
  • a pequenina
  • o mercado
  • I am happy
  • Barba azul
  • Hotel atlantico
  • arranca me a vida
  • Mamae foi ao salao
  • an education
  • distante nos vamos
  • the time that remains
  • che 2 - a guerrilha
  • 24 city
  • politist adjetif

Filmes a se evitar:
  • Um outro Homem
  • Corredor Noturno
  • A procura de paz
  • Cornucopias
Filmes que me surpreenderam (nem tanto supresa em alguns casos, mas certamente foram os melhores longas ficção que assisti):
  • Bad lieutenant
  • 500 dias com ela
  • como desenhar um circulo perfeito
  • distrito 9
  • o pai dos meus filhos
  • white material
  • as praias de agnes
  • 35 doses de rum
  • O rei da fuga
  • aquario
  • mother
  • inglorious bastards

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

O Festival do Rio vai muito além das salas de cinema

A contagem regressiva para o início do Festival de Cinema está terminando. A partir de amanhã, dia 24 de setembro, as atividades começam.

O que poucos sabem, porém, é há muito mais do que apenas sessões de cinema e debates nas salas. Por isso, tentarei brevemente informar o máximo possível sobre as atividades paralelas que também vão ocorrer nas próximas duas semanas.

Por onde começar? Pavilhão.

O evento, todo ano, apesar de espalhado por todo Rio de Janeiro, possui uma base, um local onde reuniões, seminários e festas acontecem. Durante vários anos, Copacabana abrigou a sede do Festival do Rio, mas agora, pelo segundo ano consecutivo, esta ficará localizada na Av. Barão de Teffé 75, no centro do Rio de Janeiro. Este galpão enorme tem espaço pra diversos ambientes e vai oferecer desde atividades privadas àquelas abertas para o grande público. Em geral pode-se dizer que o Pavilhão receberá todos que chegarem, normalmente entre 10 e 21 hrs. Dentre suas muitas atrações há:

Um cinema que funcionará durante toda a segunda semana do Festival, mostrando a cada noite, às 21:00, um filme em 3D de graça. Desde Beowulf a lançamentos recentes como Up, da Pixar. As sessões são sujeitas à lotação e podem ser reservadas pela Internet.

Uma sala que abrigará os cine encontros. Pra quem não sabe o que estes são, já me explico. O cinema Odeon, na cinelândia, passará todos os dias um documentário e uma ficção brasileiros, que fazem parte da mostra Première Brasil. As sessões de 13:00 e de 15:00 são populares, com ingressos a 2 reais. Após o término dos filmes, um ônibus estará na porta no cinema, com a EQUIPE do longa exibido e todos serão conduzidos ao Pavilhão. Lá, haverá uma sala onde se dará os debates. Então, todos que quiserem conhecer e conversar um pouco com os responsáveis do filme que tiverem assistido serão bem vindos. Dos convidados, já estão confirmados Fábio Assunção, Marco Ricca, dentre outros.

Uma sala de games, aberta para o público das 10 às 17 hs, que contará com jogos de última geração. “Os jogos serão disponibilizados nas mais diversas plataformas e consoles, tais como Nintendo Wii, X-Box, PSP, Playstation 3, Playstation 2 e computadores”. Monitores estarão a todo o momento dispostos a ajudar e tirar qualquer dúvida.

Um pequeno set de filmagem equipado com refletores de todos os tipos e tamanhos fornecidos pela Naymar Equipamentos, onde um cenário de um quarto estará montado, a espera de jovens cineastas que queiram filmar algo ali. Qualquer pessoa pode chegar no espaço, que se estiver desocupado, poderá ser usado para filmagens em celular, câmera de vídeo, câmera fotográfica, o que for. Então, vão preparando seu roteiros e corram pra botar a mão na massa.

Workshops dados por grandes nomes nacionais e internacionais e seminários sobre as novas tendências do mercado também ocorrerão nesse tempo. Maiores informações e uma programação completa podem ser encontradas no site www.riomarket.com.br

Para os mais envolvidos com a área, o festival fornece o Rio Screenings, um espaço para “produtores, exibidores, programadores, sales agents e distribuidores em busca de negócios possam ver os filmes disponíveis” e depois, se interessados, se reunirem com os produtores para negociações de compras e vendas.

Alguns stands de empresas de iluminação, som e imagem e até de venda de livros especializados também estarão lá, no segundo andar, para quem quiser conferir.

Há dois restaurantes e alguns lounges com Internet wi fi gratuita.

Ou seja, não há como ficar entediado.

Saindo do Pavilhão, o festival se espalha pelas Praças do Rio de Janeiro. A RioFilme vai aproveitar o evento para iniciar oficialmente o projeto em conjunto com a Prefeitura chamado Cinema na Praça. Durante as próximas duas semanas, 8 praças espalhadas por todo o município exibirão filmes brasileiros como O Guerreiro Didi e a ninja Lili e Se eu fosse você 2. Além das praças, outros locais, como o Sesc de Ramos, Tijuca e Madureira também exibirão filmes gratuitamente.

Sexta, 25 de Setembro
• Largo do Machado – 18:30 Se eu fosse você 2
Sábado, 26 de Setembro
• Providência (Quadra da Comunidade) – 18:30 O Guerreiro Didi e a ninja Lili
• Praça Seca – 18:30 Se eu fosse você 2
Domingo, 27 de Setembro
• Mangueira (Quadra da Mangueira) – 18:30 O Guerreiro Didi e a ninja Lili
• Chapéu Mangueira (Quadra do Chapéu Mangueira) – 18:30 Se eu fosse você 2
• SESC Tijuca (Rua Barão de Mesquita 539) – 13:30 Branca de Neve
Segunda, 28 de Setembro
• Acari (Pça da rua Olaria) – 18:30 O Grilo Feliz 2
• Acari (Pça da rua Olaria) – 20:00 Asterix nos jogos Olimpicos
Terça, 29 de Setembro
• Rocinha (Rua Beta Lutz 80) – 18:30 O Grilo Feliz 2
• Rocinha (Rua Beta Lutz 80) – 20:00 Asterix nos jogos Olimpicos 35mm
Quinta, 01 de Outubro
• Lapa (Praça Monsenhor Francisco Pinto) – 18:30 Se eu fosse você 2
• Esp. Criança Esperança (Cantagalo) – 14:00 Se eu fosse você 2
Sexta, 02 de Outubro
• SESC Engenho de Dentro (Av. Amaro Cavalcante 1661) – 14:00 Branca de Neve
• Paquetá (Praça São Roque) – 18:30 O Guerreiro Didi e a ninja Lili
• Paquetá (Praça São Roque) -20:00 Se eu fosse você 2
• SESC Madureira (Rua Ewbank da Câmara 90) – 14:00 Branca de Neve
• SESC Madureira (Rua Ewbank da Câmara 90) – 19:30 Pele de Asno
Sábado, 03 de Outubro
• SESC Tijuca (Rua Barão de Mesquita 539) – 13:30 Pele de Asno
• Largo do Machado – 18:30 Se eu fosse você 2
Domingo, 04 de Outubro
• 18:30 Tavares Bastos (Quadra da Comunidade) – Se eu fosse você 2
• Urucânia (CIEP Alberto Pasqualine-Rua Clion Cunha Brum) – 18:30 Se eu fosse você 2
Segunda, 05 de Outubro
• Cajueiro – 18:30 O Grilo Feliz 2
• Cajueiro – 20:00 Asterix nos jogos olímpicos
Terça, 06 de Outubro
• Vidigal (Praça do Vidigal) – 18:30 O Grilo Feliz 2
• Vidigal (Praça do Vidigal) – 20:00 Asterix nos jogos Olimpicos
Quarta, 07 de Outubro
• Asa Branca (Av. Salvador Allende) – 18:30 O Grilo Feliz 2
• Asa Branca (Av. Salvador Allende) – 20:00 Asterix nos jogos Olimpicos
• SESC Ramos (Rua Teixeira Franco 38) – 10:00 Branca de Neve
• SESC Ramos (Rua Teixeira Franco 38) -14:00 Pele de Asno

Essa iniciativa vai continuar ao longo de todo o ano e seu objetivo é completar, contando com essas de agora, 96 sessões em praças espalhadas por todas as regiões do Rio até agosto do ano que vem.
Ok, acho que pra começar, já ta bom, não?

O que mais eu ficar sabendo ou lembrar, ponho aqui.
Então, espero que todos aproveitemos muito o Festival. Vejam muitos filmes, debatam sempre que possível, aprendam e divirtam-se.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Filme novo de Coutinho continua os questionamentos

Local: Um galpão de ensaios perdido em Belo Horizonte.

Tempo: 3 semanas.

Tema: As Três Irmãs, de Anton Tchecov.

Objetivo: ver até onde vai o processo de trabalho dos atores do Grupo Galpão, dirigidos por Enrique Diaz, com o texto escolhido.

Moscou, filme mais recente do já lendário Eduardo Coutinho, segue alguns dos padrões recorrentes em sua obra, como o estabelecimento de um espaço e um tempo para sua realização, e perpetua o interesse que iniciou mais abertamente em Jogo de Cena.

Neste, tínhamos uma certa investigação de ficção e realidade e seus tênues limites. Através do depoimento de várias mulheres - atrizes e pessoas comuns - que poderiam estar atuando ou não, recriando um discurso já dito ou não, desconstruía-se idéias pré-concebidas do que seria mais ou menos sincero, assim como a idéia de um documentário feito apenas de verdades e momentos espontâneos. A verdade estaria em quem fala ou no discurso? Há mais verdade numa atriz recriando um texto ou numa pessoa colocada na frente de uma câmera para contar sua história? Chega-se à conclusão de que essas barreiras são finas demais para serem determinadas e que talvez essa nem seja a questão mais importante.

Em Moscou, Coutinho leva isso adiante. Determina desde o começo que está trabalhando com um grupo de atores e que esses estarão recriando um texto de Tchecov. Acompanhamos então, o processo de criação, desde uma primeira reunião em que o dispositivo de filmagem é explicado, passando por exercícios, leituras do texto, ensaios e apresentações (por assim dizer), cujo espaço cênico se incorporava ao galpão e seus objetos. Ainda assim, por mais definidos que os espaços pareçam estar, há momentos em que nos perdemos no emaranhado de ficção e realidade.

“As Três Irmãs” gira em torno de uma família, a princípio composta pelas três: Olga, Irina e Masha e o irmão mais novo Andrey, que tiveram que se mudar de sua cidade natal, Moscou e agora, em meio à solidão e infelicidade de suas novas vidas nessa cidade do interior, relembram incessantemente um passado (idealizado) que era melhor e mais feliz e urgem por voltar. A forma de trabalho escolhida por Enrique Diaz é ligada à memória. Falar sobre uma lembrança forte do passado, admitir uma inquietude presente, criar uma história através de fotos, dentre outros exercícios.

Assisti ao filme um pouco tardiamente. Digo tardiamente porque, infelizmente, filmes brasileiros sem forte apelo comercial não se mantêm muito tempo em cartaz e, se muito, ficam pendurados na programação do circuito por um ou dois horários perdidos no mar do cinema mainstream. Mas antes tarde do que nunca!

Ouvi algumas opiniões e reparei que as pessoas se dividiram entre as que amaram e as que detestaram o filme. Então resolvi, como sempre acho que deve ser feito quando há polêmica, expectativas e dúvidas, ir conferir por mim mesma.

Mais uma vez, me imergi no universo libertário de Coutinho que expõe seu dispositivo desde o começo e desconstrói não só a linguagem do documentário, mas também, a do teatro agora. Isso, juntamente à inventividade de Enrique Diaz e ao talento dos atores, resultou num filme surpreendente.

Apesar de não ser sua preocupação central, não posso deixar de realçar o fato de “Moscou” ser uma (não) montagem de um texto teatral que funciona na linguagem cinematográfica, o que é inédito para mim. Filmar teatro é como tentar filmar uma partida de futebol para ser assistida depois (ou seja, uma partida de futebol filmada para gerar interesse a partir de si mesma). É difícil criar o ritmo certo, saber onde pôr a câmera, escolher os ângulos e os cortes. Entretanto, a mistura de diversos elementos como:

  • a desconstrução narrativa proposta pela montagem de Coutinho e Joana Berg, juntamente à discussão que geram em relação a linguagem documental,
  • a forma do grupo galpão, que vem desenvolvendo há 27 anos um teatro de pesquisa e tem como prática convidar diferentes diretores,
  • a proposta, já explorada pela Cia dos Atores (liderada por Enrique Diaz) de abrir o espaço cênico para que o espectador possa acompanhar os processos evolutivos de criação e a prática de incorporar objetos pessoais em cena,
  • o texto incrível de Tchecov,

- geram uma apropriação encantadora por parte deles e uma forte fruição poética, que pode vir a ser perturbadora e/ou deslumbrante nos espectadores.

Aproveitando a deixa para exemplificar tal apropriação, menciono dois momentos que se seguem formando uma combinação incrível! Um ensaio onde estão todos sentados em torno da mesa, exceto os dois em cena e presenciamos uma idéia sendo desenvolvida. E logo depois a realização desta idéia já com outros elementos incorporados, como a canção de Roberto Carlos e a escuridão.

Não posso falar sobre minhas impressões fora de meus próprios conhecimentos, então comento como alguém que já havia visto a peça. Digo isso, porque talvez eu tenha tido mais “facilidade” em identificar as cenas que estavam no texto ou não. Mas posso dizer que isso não diminuiu nem um pouco minha experiência e nem acho que essa fosse uma condição para o público alvo pretendido pelo filme. Creio que a discussão vai além da identificação de “verdade” ou “ficção”. Não há mais essa distinção, tudo é teatro, tudo é verdade e mentira. Assim como o documentário que nos propõe um dispositivo aberto, mas que claramente esconde informações ou provoca diferentes percepções através da edição e das escolhas de cenas que veremos na montagem final.

Nada é por acaso. As decisões de montagem, os planos em que o microfone e a câmera nos são mostradas, direcionando nosso olhar ou o fato das apresentações serem embrenhadas naquele espaço dúbio de ensaio e espetáculo, de camarim e palco fazem parte dessa criação coletiva, que nos leva a pensar e refletir conceitos enraizados.

Mais uma vez, o dispositivo está lá, assim como os jogos e os enganos, mas o importante não é o universo criado? Não são as sensações geradas a partir do que estamos vendo? Não é a história que está nos levando?

“Moscou” não te dá respostas, mas gera perguntas. Um filme sem finalidade determinada e sem forma fechada. Um documentário que cria, documenta e se reinventa, como não poderia deixar de ser.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Festival CineMúsica






Saindo do Rio sexta feira, às duas da tarde, concomitantemente a vários cariocas ávidos por aproveitar o feriado prolongado e dar uma merecida escapadela, passando por Piraí, Barra do Piraí e outros enfim, a viagem de quatro horas me trouxe a Conservatória, cidade sede do Festival CineMúsica.

Em sua terceira edição, o Festival, mais uma vez, prestigiou e homenageou nomes importantes da história do som no cinema brasileiro, atual e de outrora. Nomes como Carlos de la Riva, Juarez Dagoberto e Ricardo Reis são alguns dos que figuraram os prêmios e homenagens da sessão de abertura na sexta feira à noite.

Além de cinema e música, o evento trouxe também, através da parceria com o Senac, um setor gastronômico com degustações e aulas de culinária abertas para o público.

A estrutura do festival contou com a sala de cinema itinerante CineTelaBrasil, montada no fim da rua principal, ao lado de vários barzinhos e uma charmosa praça; uma reprodução do Cinema Metro Tijuca com 60 lugares construída pelo cinéfilo delegado da cidade e entusiasta do CineMúsica, Ivo Raposo, e um palco na Praça Central, equipado com duas telas de tamanhos diferentes, onde as atividades de dança e apresentações se desenrolaram.

Conservatória não é uma cidade convencional. Conhecida como a capital mundial da seresta, a cidade turística é talvez a única que conheço que fecha durante a semana. Pousadas, lojas, comércio funcionam de sexta a segunda. Se você estiver querendo um lugar pra ficar entre terça e quinta, vai encontrar sérias dificuldades. Mas bizarrices de lado, o clima era de festa. Todas as sessões foram gratuitas e contaram com a participação de pessoas de todas as idades.

Hernani Heffner, curador da mostra, chama atenção para o fato deste ser o único festival nacional voltado ao universo do som no cinema, área muitas vezes negligenciada, escondida pelo glamour da fotografia, do roteiro ou da direção.

O som é um aspecto que muitas vezes passa despercebido pelos espectadores, exceto quando há problemas na exibição, na legibilidade dos diálogos, ou dessincronização. Dessa maneira, quando mais difuso e incorporado à narrativa, menos notado ele é. Em sua totalidade, desde ruídos imperceptíveis e foley à mixagem geral, dividida em múltiplos canais, a trilha acaba sendo vista como um simples acompanhamento e não uma segunda forma de expressão, que não só complementa, mas adiciona significado a linguagem visual. Ademais, muitas pessoas não entendem que a captação do som envolve um processo todo diferenciado da captação das imagens. Cada um depende de regras e tecnologias diferentes e seus técnicos passam por desafios diversos.

Não só esses quatro dias foram uma oportunidade de se assistir os filmes e pensar sobre o tema, como também de discutir e aprender através de debates e entrevistas.

Juarez Dagoberto, ganhador do Troféu Personalidade Sonora deste ano, técnico de som desde a década de 50 e ativo até hoje no mercado, nos contou um pouco sobre suas aventuras ao longo destes anos, incluindo uma experiência quase morte nas filmagens de Fitzcarraldo com o diretor alemão, Werner Herzog. Através de suas histórias pudemos conhecer um pouco mais sobre detalhes técnicos, a evolução nos processos de gravação e mixagem e mudanças estéticas, e desmistificar algumas fortes críticas ao som no nosso cinema. Nos revelou que a causa de problemas de abafamento do áudio, dentre outros, seriam as próprias salas de exibição, não bem equipadas ou com materiais envelhecidos e mal cuidados, não permitindo a melhor percepção possível do trabalho da equipe de som.

O filho de Carlos de la Riva também compareceu para nos relembrar a vida de seu pai, que mudou os rumos da qualidade do som no filme brasileiro.

“Chamar profissionais da área é algo muito pouco prestigiado. Essas são pessoas com ensinamentos técnicos e expressivos que nos permitem compreender os desafios de diferentes épocas e assim, também, os processos criativos desde antes até hoje. É uma forma de eternizar a vivência desses artistas com carreiras de dezenas de anos e uma oportunidade de sabermos não só detalhes técnicos como a história de filmagens e suas dificuldades”. Ruy Gardnier – Assistente e Auxiliar de Curadoria

Houve ainda uma discussão sobre o pólo de produção cinematográfica em Barra do Piraí e uma leitura seguida do lançamento do livro Nas Trilhas do Cinema Brasileiro, apegado de textos de oito estudiosos do ramo, que tentam esclarecer questões importantes e fazer uma cronologia da trilha no nosso cinema através das décadas.

Alguns dos pontos altos da programação foram a apresentação da Orquestra Sinfônica do Teatro Municipal, que lotou a praça central e fez muita gente dançar o baião das composições de Guerra Peixe; o documentário sobre a banda Mamonas Assassinas, que reuniu fãs e curiosos; o documentário emocionante sobre Arnaldo Baptista (Lóki) e as sessões infantis “Os Porralokinhas” e “O Grilo Feliz e os Insetos Gigantes”.

O mais recente documentário de Lírio Ferreira, “O Homem que Engarrafava Nuvens”, gerou deliciosas discussões e emocionou pela sua capacidade de abarcar grandes momentos de nossa cultura através do baião e da vida de Humberto Teixeira. Um filme que vale a pena ser visto quando estrear nas salas de cinema.

A programação completa pode ser encontrada no site: http://www.festivalcinemusica.com.br/

Este ano provou ser mais um ano de consolidação do Festival, que promete continuar e tentar melhorar cada vez mais, mostrando filmes de boa qualidade e trazendo a tona o tema do som, de forma tanto analítica como poética.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Serbis


Filme filipino de 2008 dirigido por Brillante Mendoza, sobre uma família que ocupa um velho cinema no centro da cidade. Os membros da família: avó, mulher com filho e marido, um sobrinho com uma namorada grávida, outro sobrinho e uma filha adotada. Cada um tem uma função no andamento do cinema, seja como vendedor de comida, bilheteiro, pintor dos posteres ou projecionista.
Esteticamente, o filme é bruto, câmera na mão que acompanha os personagens. As imagens, por mais que demonstrem o estado deplorável dos personagens e do local onde estão situados, são compostas por um bom contraste, realçando as cores. A luz entrando constantemente pela parede e formando desenhos luminosos nas escadas do prédio cria um efeito interessante.
Serbis apresenta um retrato decrépito dessa família assim como da sociedade e do cinema como instituição artística. A avó que não admite o marido tê-la deixado e formado outra família, e por isso processa-o, a mãe que è apaixonada pelo primo, o primo que mantem encontros sexuais com um travesti apaixonado por ele e frequentador da sala de cinema, o sobrinho que tem uma namorada jovem grávida e a criança em meio a todo esse universo confuso e feio.
Cada um com seus problemas ajuda a compor o quadro dessa família decandente, que mantêm com muitas dificuldades uma única sala que ainda funciona das três antes existentes nesse cinema chamado Family, hoje, ironicamente, permitido apenas para maiores (teoricamente), devido ao seu conteúdo pornográfico, situado numa esquina tumultuada e movimentada do centro da cidade. O que vemos no filme são alguns momentos prévios ao que parece ser a queda desse “sistema” que ainda funciona, se è que pode-se dizer isso. Ou pior, apenas momentos deprimentes de hipocrisia que continuarão a se sustentar adinfinitum.
O entorno ajuda a compor o caos que presenciamos no interior. Muito barulho o tempo todo, como se estivéssemos diretamente expostos a rua, muitos carros, etc.
Na questão da sociedade a crítica vem sutilmente em cenas como um rapaz que finge ter tido o troco certo e logo depois usa a nota que, segundo ele, nunca teria recebido ou os valores morais estritos como o catolicismo que proibe a menina de abortar até uma mãe que vai buscar seu filho de 16 anos no cinema durante uma sessão.
O paralelo com o cinema vem do fato de hoje em dia tantas salas de rua estarem ou sendo fechadas ou transformadas em Igrejas (no caso do Brasil) ou como no filme, virarem centros de encontro para gays, prostitutas e sedentos por pornografia.
O cinema como arte não figura em lugar nenhum de Serbis. Este é um mercado, pura e simplesmente. Uma oportunidade para a família se sustentar, assim como uma moradia, um processo mecânico para o rapaz que faz a projeção, um abrigo para um bode que aparece do nada, uma fuga para um ladrão e um encontro de comércio de sexo.
Apesar dos aspectos interessantes mencionados, dos personagens e da originalidade do tema, não è sensacional. Talvez por ter achado um pouco superficial ainda, ou simplesmente pela visão pútrida que me incomoda, pessoalmente.

Manhattan


Eu nunca me canso de ver Manhattan.
Ontem pela primeira vez tive a oportunidade de ver no cinema. O efeito foi o mesmo, mas melhor e maior.
Quase sempre corro para chegar nas seções porque saio em cima da hora de casa. Mas ontem, sabia que nao podia chegar nem 5 minutos atrasada, pois Manhattan não começa como a maioria dos filmes de Woody Allen. Não há uma introdução com os letreiros e uma musica de jazz contagiante para so depois a historia começar. Os primeiros cinco minutos de filme são essenciais, não so para entender o personagem como para entender o diretor. Vc pode ter ouvido falar da paixão de Woody Allen por nova york ou pode ja ter percebido em diversos de seus filmes, mas este nao tem comparação.
A combinação de seu texto incerto, repetido diversas vezes ate atingir a perfeição do sentido desejado com a fotografia preto e branco impecavel de Gordon Willis e a música sensacional e deliciosa de George Gershwin fazem uma mistura perfeita. Um dos melhores inicios de filme de todos os tempos, eu digo. Mesmo arriscando um certo exagero.
Dai, dessa introdução, ficamos sabendo do amor do personagem por sua cidade, que está escrevendo um livro e ainda alguns de seus valores como a nostalgia por um tempo em que nao havia tanta publicidade, televisao, videogame e varios outros sinais de uma nova era, da velocidade e das maquinas.
O filme segue para nos introduzir quatro personagens centrais do filme, que na realidade são quase todos os personagens que acompanharemos, com excessão de uma, elemento que vai mexer com a relação dos dois casais. Eu poderia falar sobre cada cena, ja que acho praticamente todas memoraveis, mas tentarei resumir minha admiração através de aspectos não tão detalhados.
Direi por exemplo que é um roteiro muito bem pensado, de forma a podermos acompanhar no ritmo certo o envolvimento dos personagens e o desenvolvimento de suas diferentes relações gostando e entendendo todos.
A fotografia, mais uma vez, é deslumbrante. Algo que se tornou comum em alguns de seus filmes e que aprecio bastante são as cenas de planos abertos que nos permitem uma visão geral, observando o movimento dos personagens enquanto ouvimos o diálogo. Seja no apartamento dele, enquanto desce a escada para ir ao encontro de Tracy, sentada lendo, ou quando Diane Keaton sai do taxi com Woody e os dois vao se aproximando da camera enquanto conversam, ou simplesmente a cena mais memoravel dos dois sentados num banco, as beiras do rio, de frente para a ponte do Brooklyn.
Outro elemento bem característico nesse filme são as cenas que começam por um plano de algo ligado aquilo que ouvimos, mas que ainda não nos dá todas as informações. Seja o plano contra plongé das arvores enquanto os dois andam de cavalo pela ruas de Nova Iorque, onde so depois vemos o casal sentado ou o plano detalhe do gravador de Woody enquanto este discursa sobre o que faz a vida valer a pena.
Os tons de preto e branco, cheios de cinza apresentam contraste moderado, não sendo nem sombrio, nem claro demais. Os planos são bem construidos, com enquadramentos interessantes e plasticamente bonitos. Simplicidades como uma sequência de telefones em perspectiva enquanto Isaac (personagem de Woody Allen) fala ou as persianas semi fechadas nos permitindo uma visão incompleta da cena por detrás ou Isaac e Tracy deitados na cama comendo comida pronta e vendo televisão.
No meio de tudo isso, há ainda espaço para ótima atuações, incluindo a linda Merryl Streep, diálogos engraçadíssimos e uma reflexão sobre a vida e relacionamentos. Sem esquecermos a trilha sonora super bem encaixada, composta por diversas canções de George Gershwin, onde encontramos clássicos como “Someone to watch over me” e “He loves, and she loves”. A trilha, além de criar um clima de fantasia e romance por si só, tem duplo efeito pelo fato de já ter aparecido em diversos musicais como Um americano em Paris ou Funny Face, gerando ainda uma nostalgia por um tempo em que Hollywood fazia tudo parecer mágico e belo.
As últimas cenas, desde Isaak falando para seu gravador, até ele correndo e encontrando Tracy e o pôr do sol em meio aos prédios novaiorquinos, ao som de Rhapsody in Blue igualam a importancia e maestria da abertura. Em poucos minutos Woody nos fala como a arte em suas diferentes formas (de Flaubert e Cezanne a Louis Armstrong e Grouxo Marx) são pequenas grandes distrações que fazem a vida valer apena em meio ao caos e sofrimento e ainda nos mostra uma menina de 18 anos dando uma lição em questão de amor, por mais brega que isso possa soar. “Not everybody gets corrupted, you need to have a little faith in people”.
É um filme íntimo, sensível e doce. Certamente estou deixando pra trás aspectos importantes , mas posso sempre rever Manhattan e descobrir coisas novas. Essa é a beleza do negócio.

terça-feira, 28 de abril de 2009