terça-feira, 14 de setembro de 2010

Voltando aos poucos parte 1

Bom dia!
Resolvi escrever um pouco sobre cada manifestação cultural cinematográfica que está ocorrendo na cidade.
Um pouco sobre a Mostra Faróis na Caixa Cultural, um pouco sobre a Mostra Noir no Moreira Sales e sobre a Exibição da Obra Completa de Pedro Costa no CCBB.
Ainda escreverei sobre alguns filmes que estão em cartaz no circuito normal.
Para começar, Pouco a Pouco, de Jean Rouch, filme que fui assistir na Caixa sábado passado a tarde.
Petit a Petit é o nome da empresa fictícia de um grupo de habitantes da cidade de Niamey, em Níger. Jean Rouch, para quem não conhece, era um etnólogo francês, nascido em 1917, que nos anos 50 começa a se aventurar no universo do cinema. Diretor dos renomeados Mestres Loucos (Les Maitres Fous), Jaguar, Eu - um negro (Moi – un noir) e Crônica de um verão (Chronique d’été), Petit a Petit foi um filme mais tardio. 1970.
Outra informação importante que devo fornecer para aqueles que estão começando a ouvir falar de Rouch é que seu cinema nunca foi muito definido entre ficção e documentário. Há características de ambos em seus filmes. Hoje em dia, este tipo de divisória nem faz mais tanto sentido, mas deixe eu só explicar porque esta questão é forte aqui. Ao mesmo tempo que Jean Rouch documentava aspectos reais da vida de seus personagens, criava uma linha narrativa fictícia. Era como se ele chegasse no local, conhecesse as pessoas, se integrasse as suas vidas e depois criasse uma historieta intrincada com as funções e atividades já exercidas por estas pessoas. Não bastasse esta mistura, num de seus primeiros filmes, Jaguar, quando estava na mesa de montagem, Rouch pediu para os “atores” irem ao estúdio comentarem as cenas. Esta improvisação, que as vezes recriava as falas anteriores e outras eram comentários sobre o lugar, os hábitos e eles mesmos, revelava ainda mais esse universo que o etnólogo queria mostrar.
Dito isso, Pouco a Pouco é um filme mais ficcional do que os outros. Cria-se uma empresa fictícia de importação e exportação que dá origem ao título do filme. A trama gira em torno do fato de que Damouré, o chefe do grupo, ao saber que uma cidade vizinha terá um prédio de vários andares, quer porque quer construir um também, se possível, ainda maior, em Niamey. Esta é a motivação inicial que vai gerar oportunidade do filme nos mostrar o que ele realmente pretende.
Niamey é uma cidade desprovida de prédios. Seus habitantes vivem próximo aos animais, pescam e caçam para se alimentar, enfim… têm uma realidade bastante diferente de uma grande cidade.
E quando Damouré fica com essa idéia fixa de construir um prédio de muitos andares, parte para Paris para conversar com arquitetos que possam desenhar as plantas do mesmo.
Agora sim, chegamos. O contraste. Desde que Damouré põe os pés num taxi, fora do aeroporto, já começa a sentir as diferenças gritantes. Ele diz que as ruas são todas parecidas. Depois, num ponto alto de Paris, observa-a e faz um comentário extremamente importante: “La Tout Eiffell c’est pas Paris”. Paris não é a Torre Eiffell. A torre Eiffell está ai, mas Paris não é isso. Nem aquela igreja que eu não lembro o nome, nem a Champs Elysée. Paris não é nada disso. A gente fica recebendo apenas os cartões postais com essas imagens, mas não é nada disso.
Claramente desapontado, Damouré começa uma investigação num formato comum ao cinema direto (modelo de documentário). Sai pelas ruas com uma câmera ao seu lado, fazendo perguntas aos parisienses. 
Através disso, o personagem vai fazendo críticas as vestimentas, as comidas, aos traços físicos e a falta de gentileza ou educação dos habitantes de Paris.
Acompanhamos também suas impressões sobre o clima e a própria estrutura do lugar. Ao observar o Rio Sena, diz que este está estrangulado. Sempre em comparações com Niamey. “Se parece com nosso rio, mas este está estrangulado”.
Apesar de suas críticas, Damouré não consegue conter o fascínio pela cidade que dizem ser a mais bela do mundo, lá em Níger e acaba adiando sua volta cada vez mais. Inventa sempre algum problema com o modelo do prédio, ou algo que precisa ser melhor definido.
Não quero ficar contando a história, ainda porque me parece o menos importante. O que mais me interessa é esse choque cultural e as interações entre pessoas de cada lugar.
O Amor é outro tema abordado, numa das conversas casuais dos personagens (africanos e franceses) e percebemos as diferentes visões: uma romântica e outra prática.
Como Rouch não é bobo e não queria fazer um trabalho incompleto, na segunda metade do filme, alguns personagens que foram encontrados na França partem para Niamey e agora temos o outro choque. As diferenças climáticas e comportamentais são tremendas. Há momentos muito engraçados pois a imagem reforça o ridículo que é a inserção de elementos estrangeiros em meio a paisagem selvagem da natureza africana. Objetos mesmo, como cadeiras ou roupas, etc.
E assim, chegamos a resolução do conflito. Os franceses vão embora e os africanos desistem de ficar tentando copiar tudo. Largam a empresa e falam para seus antigos companheiros: Pra que serve o dinheiro? Eu tenho tudo que preciso aqui. A gente nem sabe o que fazer com ele.Vamos criar a empresa “Les vieux cons” - Os Velhos Idiotas.
Eles nos mostram então como é errada a noção de atraso ou de que as grandes cidades sim são modelos de civilização ou que o sistema capitalista é o que deve ser seguido.
Para concluir então:
Pouco a Pouco é um filme construído nos moldes de uma ficção com não atores. Podemos constantemente perceber improvisações, risos de alguns e o conflito entre o ensaiado e o espontâneo. Construído numa linguagem ficcional as vezes e outras como reportagem ou câmera diário, o filme é uma ótima maneira de se descobrir esse universo tão distante do nosso e gerar interessantes discussões.

domingo, 29 de agosto de 2010

Primeiro Sinal

Fico até envergonhada de aparecer por aqui... tanto tempo ausente.
Em geral, utilizo este espaço para falar de filmes ou eventos cinematográficos, certo?
Algumas exceções como quando viajei, e isto virou mais um diário, ou quando acabo usando este espaço para falar do que penso sobre determinado tema.
Pois bem. estava trabalhando bastante, mas agora estou me liberando. Pretendo usar este quadrinho em branco para escrever mais e mais nos próximos tempos.
Vou ver tb se atualizo umas criticas antigas que nunca finalizei. Não sei se isso vai interessar muito gente porque os filmes não estão mais no cinema. Mas quem sabe? aqueles que nao viram podem ate se interessar e alugar =)
bom. isto então é apenas um aviso. O primeiro sinal antes da peça começar.
Pééééééééééé....

sexta-feira, 2 de julho de 2010

COPA 2010

EU GOSTO DO DUNGA!!!!!!!!!!!!!!!

Ele pode ter feito besteiras, mas conseguiu fazer uma copa com um time que crescia a cada jogo. Muito mais emocionante e com vitórias muito mais merecidas que o desastre de 2006.
Por essas e outras, gostaria de deixar meu apelo aqui:

eu gosto do dunga!!!!!!!!!

quarta-feira, 10 de março de 2010

Uma experiência cinematográfica que vale conferir

Entrei no cinema, me aloquei no centro, fileira D, como de costume. Trailer 1, Trailer 2 e então os créditos iniciais de Direito de Amar (nome ingrato que mais parece novela de sucesso da Globo nos anos 80) começam.

Me vem aquele baque de cara pelo filme ser em digital. Algo que pode parecer uma certa frescura, mas os motivos são vários, mesmo eu não sabendo enumerá-los para elucidá-los. Uma reação, por exemplo, não só decorrente disso, mas influenciada foi: projeção escura… tsc tsc tsc

Na tela: um homem debaixo d’água. Seu corpo nu gira em câmera lenta num azul escuro subexposto enquanto a trilha sonora tensa e emotiva guiada por violentos violinos nos anuncia que o assunto é sério. Algo que lembra um pouco produções inglesas recentes como As Horas, O Leitor.

Então, depois de um sonho, o homem abre os olhos assustado e sua voz, calma e fria diz: Waking up begins with saying am and now. (Acordar começa dizendo sou e agora).

E assim, com alguns cortes secos, uma expressão facial que parecia me sugar para sua angústia, suas cores dessaturadas e apenas duas frases, o filme me conquistou.

Eu estava lá e estaria ao longo dos 101 minutos que seguiriam.

Single Man consegue trazer várias questões de importante discussão à tona de forma coesa e coerente. Ao escolher o período de maior tensão da Guerra Fria, quando os mísseis em Cuba ameaçavam deslanchar uma 3a Guerra Mundial fulminante, o assunto não poderia ser outro: Medo.

Em apenas uma cena, nosso protagonista, professor de literatura, usa como pretexto o livro de Aldous Huxley para tentar esclarecer o discurso por trás do preconceito e da diferença.

Guiado por sua intenção de ter um dia diferente dos que preencheram os 8 meses desde a morte de seu companheiro, George resolve falar o mais abertamente que a sutileza permite sobre a perseguição a minorias e a manipulação do poder a partir do medo.

Para responder a uma pergunta (idiota) de um aluno se Huxley seria ou não antisemita Faulcon nega e após um momento diz: Quando uma maioria persegue uma minoria sempre há uma causa, só que esta pode ser imaginária, inventada, como no caso dos alemães e dos judeus. Mas há uma causa, e esta é o medo. Uma minoria só é tachada como tal quando representa uma ameaça para os demais.

Com apenas este discurso, o diretor consegue fazer uma reflexão sobre preconceito, o pensamento de conquista e superioridade americanos e fecha com uma questão que poderia tanto ser direcionada aos anos 60, quanto hoje: o controle das massas através da disseminação do medo. Este é até um assunto muito ilustrado nos últimos tempos de forma mais sutil ou berrante seja em filmes como Sherlock Holmes ou Avatar. Mas enfim, quem sabe depois de bater na mesma tecla, a mensagem entre na cabeça das pessoas?

O niilismo extremo do personagem é bem fundamentado por sua dor e luto, mas consegue ser ainda reforçado pelo clima de falta de esperança de um futuro melhor. Numa época em que a qualquer momento uma bomba atômica poderia explodir, o futuro era a morte, o fim do mundo, a guerra, o terror. Pra que pensar no amanhã ou dar valor a vida então?

Agora, saindo um pouco da questão ideológica, gostaria de comentar a estética visual do filme, a fotografia. Adorei a idéia de manter as cores dessaturadas ao longo da narrativa para demonstrar a total falta de ânimo e o estado de melancolia constante do personagem. Tal modelo é apenas alterado quando este se depara com elementos que chamam sua atenção, que lhe devolvem um pouco o sabor da vida e que fazem-no admirar beleza. Aí então as cores se tornam fortes e até exageradas, ás vezes.

George Faulcon é um homem sensível e apreciador de detalhes e a câmera é seu olhar. Na verdade, nem seu olhar, mas sua consciência, seu modo de perceber o mundo. Seja a câmera lenta, a repetição, a luz, as cores o foco ou o enquadramento. Tudo isso nos faz mergulhar em suas emoções e sensações. É um filme quase sensorial. O som também exerce um papel muito importante nessa composição. Tanto a música (pulsante) aos momentos de silêncio (vazio).

E ainda pra finalizar, essa viagem pela dor, tristeza e angústia consegue nos levar a clareza e plenitude.

Talvez minha única retensão em relação a “Single Man” seja uma busca pelo belo fácil. Todos os homens e mulheres que o páram, que o cativam, possuem uma beleza esperada e tão acessível que tornam sua sensibilidade quase viciada, previsível.

Um filme para mergulhar, desde a primeira cena. Tapar os olhos e os ouvidos e abrí-los novamente com o ponto de vista do personagem de Colin Firth, que nos guiará com cuidado, carinho e cautela ao longo do filme.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Jason Reitman concorre ao Oscar com seu terceiro longa

“Up in the air”, traduzido como “Amor sem escalas” aqui no Brasil, é o mais recente longa de Jason Reitman. Este jovem diretor começou desde o início de sua carreira com o pé direito, desde sua estréia com “Obrigado por fumar”, passando por “Juno” e agora com seu filme concorrendo ao Oscar e ele mesmo a melhor diretor.
Fui assisti-lo ontem, no Odeon, com muitas expectativas e creio que talvez esse tenha sido o mal. Esperava um filme incrível, um “Embriagado de Amor”, algo que me tirasse do chão e me devolvesse só no fim. O que encontrei foi um bom filme, com um jeito metódico de edição, condizente com muitos diretores desta geração, ótimas atuações e uma trilha sonora deliciosa, cheia de rocks calmos e melódicos, tendendo para algo indie como Belle and Sebastian às vezes, e outras ao rock clássico dos anos 60.
Bem, agora que já abaixei as expectativas um pouco de quem ainda não assistiu, vou complementar o que escrevi com mais alguns detalhes para tentar fazer voltar aquela vontade de ir ao cinema conferir.
“Amor sem escalas” é uma comédia/drama romântico. Possui o típico roteiro de mudança interna do protagonista. Mas o faz muito bem.
Ryan Bingham trabalha numa empresa contratada para demitir funcionários de outras empresas. Para isso, passa mais da metade do ano viajando para diferentes cidades dos Estados Unidos. Uma vida que poderia parecer solitária para alguns é para ele exatamente o que desejaria. Ryan considera o “ar” sua casa, os aeroportos seu porto seguro. Não possui vínculos fortes com ninguém, nem mesmo sua família.
Um outro ponto interessante são os cartões de fidelidade e sua obsessão com a contagem de milhas. Para ele, tal reconhecimento e tais pontuações são mais importantes do que qualquer relação. São seguros e objetivos.
Até que uma novata adentra seu território e tenta mudar as regras do jogo. Numa tentativa de prová-la errada, se vê obrigado a ensiná-la seus métodos e acaba entrando em contato com outras ideologias de vida. No meio desse processo, claro, conhece uma mulher e a partir daí tudo se desenrola.
A grande questão do filme me parece ser uma reflexão universal, já desenvolvida de diversas e múltiplas formas: ninguém pode ser sozinho. Numa discussão chave, o personagem de George Clooney coloca seus argumentos na mesa – não preciso de amigos para ter com quem conversar, quase todos os casamentos terminam mal, todos nós morremos sozinhos – em contraposição aos de Anna Kendrick – todos precisamos de alguém para contar, de alguém para dividir nossa vida, de amor, de estabilidade. Esses dois valores são postos em conflito e aí vem um dos grandes trunfos do roteiro, pra mim: a percepção de que mesmo que escolhamos o caminho contrário ao solitário e da auto-suficiência, nem sempre este será um caminho fácil ou dado de bandeja. Ou melhor, é mais fácil sim seguir por um trajeto desvinculado, exije menos trabalho, mas não necessariamente é mais gratificante.
Para complementar, vem uma de minhas falas favoritas, numa seqüência um tanto quanto forçada para encaixá-la, quando Ryan está tentando convencer o futuro marido de sua irmã a prosseguir com o casamento. Ele diz que nada faz sentido: a vida, o que construímos, nosso trabalho, nada disso faz sentido porque vamos todos eventualmente morrer. Mas tendo isso em mente como garantido, o máximo que podemos fazer é aproveitar os bons momentos, e estes costumam vir em pacotes conjuntos, com aqueles que amamos.
O que me comoveu bastante foram os depoimentos das pessoas que teriam sido demitidas no começo do filme, falando sobre como estariam superando ou agüentando a situação. Todas elas mencionam suas famílias, seus filhos, seus companheiros, pessoas amadas.
O filme consegue ser atual, reconhecendo que essa situação de crise existe, que empresas cretinas contratadas para demitir funcionários alheios também continuarão existindo, mas mostra que enquanto existir amor, solidariedade e, enfim, pessoas com quem podemos contar, haverá esperança e possibilidade de continuar. E de qualquer forma, mesmo admitindo essa dura realidade, se opõe a ela de diversas formas e ainda oferece alternativas: a idéia absurda das demissões via Internet é retraída por causa do suicídio de uma funcionária, a auto demissão da personagem de Anna Kendrick e o tão esperado ato de liberdade de Ryan Bingham.
Então, apesar de ser um filme claramente com um propósito e de, em muitos momentos, ser “friamente calculado”, nos oferece momentos verdadeiros que o salvam, conseguindo finalmente mais para o desfecho, nos embarcar.

domingo, 10 de janeiro de 2010

Avaliação da primeira maratona de 2010

Um ano e meio sem aparecer em um de meus eventos cariocas favoritos, esta sexta feira (8 de janeiro) – finalmente – figurei na maratona do Odeon.

Não reconheci de cara.

Primeiro, havia ingressos até logo antes de começar. Melhor dizendo, não esgotaram os ingressos. Fenômeno esse que nunca havia visto desde minhas primeiras visitas ao trio fílmico nas primeiras sexta feiras do mês. Segundo, o público está diferente. Menos estudantes de cinema, menos pessoas com armações de óculos retangulares semi grossas e pretas e mais pessoas aleatórias, que parecem gostar do evento em si, mais do que dos filmes. Ainda um ponto de encontro, como nos tempos dourados. Terceira e grande mudança, seleção dos filmes. O tom geral permanece: primeiro filme, mais esperado. Segundo, quebra de ritmo, normalmente o mais sério dos três. Terceiro, o escrachado, o que menos tem que ser levado sério ou, ao menos antigamente, clássico, esquisito, com cópia ferrada, antigo ou cult.

Entretanto, antigamente, havia algo de especial nessa seleção. Não só senti falta do segundo filme surpresa ou a ser escolhido pelo público, como achei os três títulos fracos. O primeiro, que deveria ser a grande atração, desapontou bastante.

A Mente que Mente. Um filme de Sean McGuinly (nunca ouvi falar) com filho e pai Hanks, a presença ilustre de John Malkovich e algumas pontas como Steve Zahn, que estão ótimas.

Desde as primeiras cenas fiz o conhecido e involuntário “tsc”. Uma narração em off com montagem das imagens ilustrando aquilo que estava sendo dito. Além da falta de criatividade e da total falta de força deste início (tão importante para qualquer narração), a premissa do personagem lembra muito aquela de Xavier (Romain Duris) em Albergue Espanhol. A diferença é que um ia ser advogado e o outro trabalhar num escritório e que a solução de um é ir trabalhar com um mentalista e o outro resolve fazer intercambio. Falando assim, parecem bem distantes, mas a questão central é: rapaz chegando numa idade de tomar decisões importantes de vida resolve que o caminho que está seguindo não o levará a felicidade, por isso larga o que está fazendo. Além do que, ambos têm aptidão para escrever.

Bem, após minha insatisfação inicial, veio a decepção com os planos. Mal feitos, principalmente nos primeiros 15 minutos de filme. Todo o aspecto imagético foi prejudicado pela exibição digital. Pelo que pareceu, o filme também foi rodado em digital. De qualquer forma, quase não havia cor nem profundidade e isso me incomodou na maior parte do tempo.

O ritmo também não se encontrou. Entre romances desnecessários mal estruturados narrativamente, narrações em off excessivas nos contando tudo que o diretor era incapaz de mostrar imageticamente, vazios na história e cenas fracas, o que salva o filme é a atuação de Malkovich. Extremamente assertivo em seu papel de Buck Howard, John Malkovich criou um personagem complexo, cheio de defeitos e irritações, mas carismático e forte. Conseguimos entender de onde vem sua impaciência e dificuldade de lidar com aqueles a sua volta.

Ele é um mágico/mentalista que construiu sua fama por ter aparecido 61 vezes no famoso programa americano “Tonight Show”. Depois de um tempo, inexplicavelmente, os produtores do programa param de chamá-lo e sua carreira começa a decair exponencialmente até que o máximo que consegue fazer são alguns shows em teatros pequenos de cidades que nem aparecem direito no mapa. Buck passa metade do filme tentando conseguir voltar aos spotlights. Mas o que ele percebe ao longo da história é que aquilo que estava buscando: a fama novamente, aparições na televisão e shows fixos em Las Vegas não era mais o que precisava. Essas pessoas, essa parte do entretenimento era falsa, mesquinha, não o amava realmente, não estavam lá por ele e sim pelo espetáculo, pela fofoca, pelo que ouviram dizer, pela curiosidade e quase por um desejo de descobrir algo de mentiroso em suas mágicas e truques.

Essa descoberta é a grande questão a ser ressaltada pelo filme. Uma certa ingenuidade, a crença pela magia, o amor verdadeiro do mágico com seu público, para quem devotava seu tempo e sua mente no intuito de fazer-lhes rir e se maravilhar.

O problema é que isso fica solto num filme mal estruturado, que acaba sempre recorrendo à voz off nos momentos mais importantes.

Acho que como entretenimento é fraco, apesar de divertir em momentos. Acho que como um filme de John Malkovich é fantástico, porque cada cena com ele vale a pena ser vista. E acho que como filme poderia ter atingido a mensagem que pretendia passar de outras formas, mais eficazes e mais poéticas.

Bom. Continuando minha avaliação da Maratona…

O segundo filme foi de Christophe Honoré, autor de “Em Paris” e “Canções de amor”. Bem diferente do direcionamento que levou em ambos longas citados, onde equilibrava alegria e tristeza, leveza e densidade, poesia e melancolia, música e silêncio, Honoré escolheu ir até o fundo da angústia dessa vez. Mesmo já tendo tratado temas pesados como separação e morte, “Não minha filha, você não irá dançar” se passa em torno de uma família com problemas de relacionamento e cujo foco central é a filha mais velha, representada por Chiara Mastroiani, que está passando por um processo de separação. O grande problema é que tal personagem está em negação consigo mesma. Não quer admitir que está sofrendo por um marido que a traiu e acredita que por se bancar de forte e fria, este perceberá o erro que cometeu e voltará pedindo perdão. Quando isso não acontece, usa os filhos para atingi-lo.

Então, a história é centrada numa mulher que se mostra maior parte do tempo chata. Chata e angustiada. É difícil um filme desses manter um ritmo leve ou fácil.

Apesar de ter percebido que este foi o filme menos apreciado da noite, para mim foi o mais proveitoso. O mais próximo de querer dizer alguma coisa e atingir esse objetivo. O mais humano dos três.

Gosto dos planos, de certas cenas, até de ilustrações como o conto da mulher linda que fazia os homens dançarem. Honoré nos mostra alguém perdida, que não sabe sair de onde está e não consegue ver melhoria. Seu orgulho a impede de ser gentil com os outros e quanto mais cruel é, mais difícil é voltar atrás e pedir desculpas.

Por mais que as duas irmãs tornem a narrativa bastante sombria, a presença dos pais e do irmão mais novo clareiam um pouco a escuridão e ajudam a por em perspectiva as percepções dos personagens. A cena de amor entre os dois (Marie-Christine Barrault e Fred Ulysse) é linda e inusitada.

De certa forma, estou cansada de filmes franceses cujo tema gira em torno de um encontro familiar revelador das diferenças e problemas entre os membros daquele núcleo. Entretanto, acredito que este conseguiu, por manter o foco em uma das personagens e mostrar que nem todos tinham complexas reclamações uns dos outros, colocar uma questão em evidencia e desenvolvê-la.

É isso. Um pouco arrastado e bastante melancólico, porém verdadeiro e evidenciador (inventei para o fim de meu objetivo significativo).

Já o terceiro era um pastelão espanhol. “Á moda da casa” é um típico filme de comédia fácil, que recorre a piadas bobas, preconceitos e situações ridículas para obter as risadas do público.

Não vou me prolongar porque escolhi dormir durante o filme, depois de assistir 15 minutos. Vi também os últimos 30 e confirmei minha intuição de que seria bobo demais pra merecer minha atenção. Estou sendo dura, admito, mas acho que com minha já fixada decepção com outros aspectos da Maratona, esperava algo que, ao menos, me mantivesse acordada.

É engraçadinho, me fez rir de vez em quando, mas não trouxe nada. Um quadro que depende da minha presença na frente dele para ser apreciado, se tanto. Muitas vezes, ao se fazer uma comédia, o diretor cria um outro mundo, o mundo do riso em que tudo é possível, por exemplo, Jack Lemmon se passar por mulher em “Quanto mais quente melhor”, mas isso só funciona quando somos levados com ele até esse universo. “A Moda da casa” nos joga sem explicação nesse frame de diálogos estúpidos, mal entendidos óbvios e história rasa.

Bom, sem mais delongas, fica aqui minha esperança de que a seleção dos filmes da próxima maratona seja melhor e um convite para todos que queiram conferir. =)

Holmes, Sherlock Homes



Com certa relutância, mas uma excitação revelada, combinei com alguns amigos de ir ao cinema este sábado para assistir Sherlock Holmes, a mais nova versão deste tão cultuado personagem inglês. Holmes é um desses personagens que fizeram parte da minha infância mesmo não o conhecendo tão bem. É como um tio que só vi algumas vezes, mas conheço por ouvir falar nas reuniões de família. Como este, Shakespeare e Beatles vinham juntos.
A cada filme que assisti ao longo dos anos, desde os mais tenros até hoje, aprendia mais e tinha mais curiosidade para observar a dupla Holmes e Watson em ação. Não sei se pelo senso de humor, pela relação entre os dois ou pela maneira minuciosa de resolver seus casos, Sherlock Holmes sempre foi um super herói na minha cabeça e um dos mais intrigantes.
Ao saber que este ano, Robert Downey Jr, um de meus atores preferidos no cinema atualmente, estrelaria como o famoso detetive, entusiasmo me preencheu por completo. Porém, logo em seguida veio a dúvida e a insegurança. Guy Ritchie seria o diretor.
Para quem não conhece, Ritchie, muito conhecido como o mais recente ex-marido de Madonna, é o diretor de “Jogos, trapaças e dois canos fumegantes”, além de “Snatch, porcos e diamantes”. Ambos divertidos, com personagens de moral duvidosa, mas simpáticos, um pouco de drogas, um pouco de armas, alguma confusão que só piora ao longo do filme para ser resolvida nos momentos finais e sempre um ator muito grande que deve ser temido. Além da montagem frenética, letreiros... enfim, uma certa onda estética que veio com Tarantino e Transpotting, de Danny Boyle.
Apesar de ter sido favorável ao estilo de Guy Ritchie no início de sua carreira, cansei. Tentei assistir o filme que fez para e com Madonna e, de tão insuportável, tive que mudar de canal algumas vezes até desistir. Rock’n’Rolla tão pouco me conquistou. Não basta mais repetir o mesmo estilo de sempre. Tem que renovar. Por essas e outras, minha preocupação de que seu olhar deturpasse o personagem de meu imaginário e que este fosse transformado em apenas mais um de seus personagens.
E agora, depois de ter sentado pelas duas horas de filme, posso afirmar que estava enganada.
Há sim alguns resquícios de sua cinematografia que acredito não ter conseguido deixar para trás, como as cenas de luta de boxe e outras brigas. Mas mesmo assim, consegue reverter esse aspecto para seu benefício e ressaltar, nessas cenas, a personalidade dedutiva e calculista de Holmes.
Uma herança de seu estilo que se encaixou perfeitamente foi a trilha sonora com canções instrumentais irlandesas, que retrata bem a rebeldia e o senso de humor presente.
Sherlock Holmes consegue não só divertir, comover e deixar a platéia tensa, como traz discussões atuais em sua trama: A questão ciência x religião, temor de armas químicas, mas principalmente, o poder que pode ser obtido facilmente quando a população está com medo. Medo e ignorância como as maiores armas de controle.
Já nos aspectos técnicos, fotografia, figurino, créditos de encerramento, estão todos fantásticos. Representam bem a época referida e trazem o clima sombrio e de evolução industrial pretendidos.
A dupla Downey Jr e Jude Law está em perfeita harmonia. Parecem casados há anos, começando a sentir as pontas do desgaste matrimonial. Mas essa “possível” relação amorosa se revela numa amizade carinhosa e de quase dependência entre os dois.
A necessidade de trazer um elemento feminino mais forte trouxe Rachel McAdams como Irene Adler, uma das poucas personagens femininas de alguma importância nas histórias do detetive. Não me convenceu de todo, nem a atriz, nem a personagem, mas funciona como acessório para a história.
Então, para finalizar, digo que fui surpreendida por um filme excelente. Usam-se artifícios narrativos e imagéticos construídos para seduzir o espectador sem ele perceber? Usa, mas muito bem. As cenas de briga, as piadinhas, as escapadas espertas, as frases de efeito, tem tudo isso. Mas estes se encaixam e não se tornam cansativos ou óbvios demais.
Atuações impecáveis, uma história envolvente, diálogos inteligentes e uma adaptação fiel (nos aspectos mais importantes) do personagem inglês. Digo tudo isso sabendo que muitos fãs, leitores das historias originais, correm o risco de indignarem-se com a mudança radical de ares de Sherlock Holmes.
De reflexão intelectual e lógica para o uso recorrente de músculos e habilidades físicas em geral, houve um grande salto. Porém, se se concentrarem no cerne do personagem, em sua falta de tato, sua reclusão social, sua impaciência com erros medíocres, seu amor por Watson, sua capacidade de dedução, etc é capaz de terem uma boa experiência na sala de cinema.
E o que gosto de ressaltar é que esta é apenas uma possível visão sobre o personagem lendário. Muitas outras vieram e outras hão de vir. Eu gosto dos casos mais simples, com menos ambição mundial e uma capa com cachimbo e lupa grande? Gosto. Gosto de personagens que conversam a maior parte do tempo, nos mostrando o percurso racional que estão fazendo para nos conduzir com eles à resposta em vez de correr, saltar de prédios ou derrubar barcos em construção na água? Gosto. Mas acho que na busca pelo sentido há espaço para variações e interpretações.
Entrei no cinema uma mulher ainda um pouco cética e saí uma menininha totalmente animada e pronta pra outra história.