segunda-feira, 28 de julho de 2008

Martian Child

“Ensinando a Viver”, de Menno Meyjes, é um filme sessão da tarde. Daqueles com um pouco de lágrimas, algumas risadas, atores cativantes e trilha sonora permanente nos indicando o tipo de emoção de cada cena.

A história é sobre um viúvo, David, que ainda não superou a morte da mulher há dois anos e que está pensando em adotar uma criança. Quando está quase desistindo dessa idéia, é conquistado por uma criança, que mostra ter vários pontos em comum com ele. Dentre os tais, a dificuldade de se sociabilizar de quando era mais novo e o forte interesse por histórias fantásticas. Um interesse, na verdade, que extrapola o “aceitável” e acaba rotulando o menino como problemático.

A grande quantidade de amor contida em David, a vontade de talvez conseguir ajudar alguém que está passando pelas mesmas coisas que passou na sua infância e o carisma misterioso do menininho são suficientes para ele decidir entrar nessa empreitada.

Jonh Cusack (David) interpreta muito bem o viúvo que se torna pai. Isso significando que ele interpreta como quase sempre nos filmes de comédia romântica ou comédia dramática: um homem sensível, com uma sinceridade atraente, alguns trejeitos que parecem improviso e uma boa presença na tela. Tudo isso parece herança de um de seus primeiros filmes, lá em 1989, de Cameron Crowe, “Digam o que quiserem”. Pra mim, um dos melhores filmes românticos já feitos.

Sua irmã, Joan Cusack (Liz) também está ótima no papel (novamente) de sua irmã. Essa química dos dois juntos, que tem se repetido em diversos filmes, funcionou mais uma vez. E como em muitos de seus papéis, um deles sendo a melhor amiga de Rob (John Cusack) em “Alta Fidelidade”, ela interpreta uma mulher neurótica e preocupada.

O menininho (Bobby Coleman) é uma graça. Um desses atores mirins fofos que interpretam o papel de uma criança prodígio e que por isso parecem bem mais velhos e soam irreais. Apesar dessa descrição “pessimista”, nesse caso, a escolha funcionou bem, por ser esse o caminho para o qual o personagem realmente deveria caminhar. Além disso, o ator mantem uma ingenuidade e uma teimosia tão genuínas, que lhe trazem de volta ao mundo juvenil e acreditável.

Amanda Peet (Harlee) é uma velha amiga de David e de sua falecida mulher. Está sempre próxima, apoiando e ajudando o amigo. Desde a primeira cena já fica estabelecida a forte afinidade entre os personagens e é interessante como o filme se desenvolve em torno desse assunto velado que quase nunca se efetiva. É interessante também ver como a história deles dois realmente permanece como um sub-plot, não se tornando mais um caráter de fantasia onde tudo dá magicamente certo e nem desviando a atenção do espectador do tema que realmente importa: a relação David / Dennis.

O elenco tem direito até à participação especial de Angélica Houston, como uma gananciosa editora, preocupada em criar uma saga de sucesso a partir de um primeiro livro de David.

Num quesito mais técnico, a decupagem de planos é comum desse gênero: muitos planos conjunto mostrando o todo da situação, alguns planos fechados em momentos mais significativos, mais emotivos (quando os personagens estão se tornando mais próximos, por exemplo), plano/contra-plano, etc.

Um dos méritos narrativos do filme é que ele cria tão bem a relação dos dois, que o fato da “fantasia” ser ou não real torna-se irrelevante. Eu, particularmente, acreditei nessa possibilidade, mas em um determinado momento, somos levados a crer que tudo era ficção inventada pelo menininho, como resposta a suas carências e a sua insegurança num mundo que já o tinha abandonado duas vezes.

Em resumo, “Ensinando a viver” é um filme narrativa e tecnicamente careta, mas que consegue trazer uma discussão interessante sobre as dificuldades de se criar um filho, ou ainda, de se deixar apegar por alguém, com todos os riscos que isso pode apresentar. O filme é isso. Essa busca de entendimento, confiança e amor entre duas pessoas muito sensíveis que se conhecem em momentos frágeis de suas vidas. E nesse caminho, outras questões são perpassadas como: a perda e a separação, a dificuldade de se viver o presente e esquecer o passado, mas principalmente, a dificuldade de sermos nós mesmos.


PS: para os que não ficarem até um pouco mais nos créditos, ou não prestarem atenção, essa é uma história baseada em personagens e eventos reais, que deu origem realmente ao livro “Martian Child”.

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