segunda-feira, 28 de julho de 2008

Cavaleiro das trevas

É difícil falar sobre um filme que parece falar por si só.

“Cavaleiro das Trevas”, mais recente adaptação do personagem da DC, o Batman, e segundo da série dirigido por Christopher Nolan, é um dos melhores filmes que vi nos últimos tempos.

A narrativa é fantástica. Se mantem constantemente tensa, instigante e surpreendente durante as duas horas e vinte. Eu fiquei grudada na cadeira sem conseguir me mexer direito até o final dos créditos.

Como filme de herói é genial. Está fiel aos personagens da revistinha e a alguns acontecimentos espalhados por diferentes histórias, como O Longo Dia das Bruxas, Asilo de Arkham, etc. Com algumas mudanças, no intuito de que o roteiro ficasse bem fechadinho.

Desde o caráter com falhas de Bruce Wayne (Christian Bale), que apesar de toda sua dedicação para melhorar o mundo, busca desesperadamente um sucessor para que possa viver uma vida “normal”, até o maior dos vilões do homem morcego, o Coringa, podemos confirmar a fidelidade com a idéia original.

Este último, apesar de ser chamado de louco e de “freak” o tempo todo, é a voz da razão. Ele é um caos que faz sentido. É o personagem mais inteligente e que sabe interpretar todas as situações, quase sempre estando à frente de qualquer outro em seus planos. Uma das coisas que Coringa tenta mostrar é que o ser humano está a um passo da destruição e da loucura. Basta dar um empurrãozinho. E uma outra reflexão seria sua relação indissociável com Batman. Eles dois são feitos um pro outro. A existência de um justifica a do outro. Assim, a morte de um deles não faria sentido.

Todas as cenas em que o coringa faz um discurso são fortes e esclarecedoras. Ele domina toda a extensão da tela anamórfica, quando aparece. O que começa como um personagem cruel e violento se transforma numa pessoa um tanto quanto coerente e convincente. Certamente é um Joker diferente do filme de Tim Burton. Apesar da excelência na atuação de Jack Nicholson no clássico de 1989, Heath Ledger não deixa nada a desejar nesse vilão um pouco mais cru, mais sério e assustador.

Aaron Eckhart está perfeito como o defensor público Harvey Dent que se torna o símbolo de justiça e de coragem, quase como um segundo herói, só que mais próximo da realidade. Outro personagem fundamental para entendermos o funcionamento da mente de Batman e de seu entorno. “You either die a hero or live long enough to see yourself become the villain”.

Maggie Gyllenhaal é uma nova Rachel, muito mais interessante e com personalidade que aquela interpretada por Kate Holmes. Sua personagem não só é boa por si só, como também gera um conflito essencial na história, através do triangulo amoroso motor de diversos acontecimentos.

Michael Caine e Morgan Freeman, os dois veteranos, estão ótimos como sempre em seus papéis de sábios ajudantes.

Gary Oldman dá um show de atuação, como de costume. Ele, que já interpretou papéis dos mais diferentes em sua carreira, como Dracula, Guildestern (ou Rosencrantz heheh), Lee Oswald ou padrinho do Harry potter, se transforma pela segunda vez, no comissário Gordon, personagem super importante por sua cumplicidade com Batman e por sua entrega em defender Gotham.

Além da atuação impecável dos atores, do caráter fiel com a revistinha e da narrativa cheia de adrenalina, Cavaleiro das Trevas preenche diversos quesitos.

Como suspense é um filme fantástico. Cheio de surpresas, acontecimentos inacreditáveis, cenas fortes, reviravoltas e tensão.

Como um filme de ação, também, certamente. E suas explosões e colisões são bem mais aceitáveis e acreditáveis que muito filme hollywoodiano.

Além de todos esses aspectos, Batman possui também romance, comédia e drama. E ainda pode ser pensado como um filme político.

A trilha sonora é muito boa. Além de seu tema emocionante que fecha o filme de maneira brilhante, este é todo perpassado por pequenos sons aqui e ali, trechos curtos de músicas que ajudam a aumentar a tensão sempre que preciso.

A estética é bem voltada para a escuridão. Poucas cores: preto, cinza, prateado, azul. Muitos planos abertos em cenas de ação, misturados com diversos closes em momentos de aproximação entre os personagens.

Na questão dos diálogos, as “frases de efeito” fazem sentido. Não são frases jogadas simplesmente. São coisas que precisam ser ditas, e que por causa de sua força, da perspicácia embutida nelas, tornam-se excelentes frases de efeito.

Resumidamente, parece ter sido um filme de entrega de todos envolvidos. Um daqueles filmes em que todo mundo fez o melhor de si e a combinação foi excelente. E os espectadores puderam sentir isso. No final da sessão, olhei para trás, e estavam quase todos em pé ou sentados parados olhando para a tela, com olhar de deslumbre. Uma sensação muito boa de comunhão, de ter feito parte de algo fantástico passou por mim.

Um roteiro muito bem pensado, ajustado às proporções necessárias; atores muito bem escolhidos que acreditaram no que estavam fazendo como um filme sério e não apenas mais um filme de super heróis; uma impecabilidade técnica em todos os sentidos; um clima de tensão esmagador durante todo o “trajeto”; um visual próprio, ainda que realista; uma discussão contundente sobre a loucura dos dias atuais; um misto de diversas sensações; um filme completo e arrebatador.

3 comentários:

Felipe Coelho disse...

Para mim depois da atuação estarrecedora do Ledger, o melhor do filme é o Gary Oldman. Faz tudo o que pode fazer, mas não é um Batman, sempre muito seguro de si, porém de uma forma muito sensata e humilde. Amigo do Batman, mas antes dessa amizade, vem seu comprometimento com Gotan. Caine é incrível também.

O filme é quase uma aula de Filosofia e História recente dessa América "freak", dessa América por um fio, um barril de pólvora, sobre o medo, o vazio, as pessoas como ovelhas sem graça, mexe com o coceito da violência como remédio, como cura, sem imaginar que toda essa doença é vingada pelo vilão em dobro, em triplo. Coringa é filho de Gotam, Coringa é nosso filho, que ao ter conceitos de "bandido bom é bandido morto", "tem que matar mesmo", "chama o batman e pronto" e etc... Discursos que legitima a ação americana descabida em solo estrangeiro tão bem mostrada em filmes como "Caminho para Guantanamo" ou "Tartarugas podem voar" ou na ação do Batman em Hong Kong. Esses discursos das próprias pessoas "de bem" é que gera uma vingança em triplo da parte afetada. E fica esse jogo da violência a qualquer instante, do medo, da dor psicológica.

Batman é verdadeiro e cruel, sim, mas vem em forma de alegoria nos mostrar que somos produtos disso, coniventes.

òtimo filme, e uma boa resenha

Ricardo JSouza disse...

Na hora do filme, eu realmente fiquei sem palavras, achei perfeito. Mas depois q a adrenalina abaixa e leio algumas críticas, relito um pouco mais. Apesar de ótima a parte do interrogatório, achei q aconteceu cedo demais... O Coringa e o Batran mal se conheciam pra ele dizer q os dois se completam e coisa e tal... A origem do Duas-caras também acho que foi um pouco atropelada.. na história original ele passa por uma novela psicológica até ficar louco memso. Mas não me incomodou tanto. E acho que faltou Batman... ele é puramente bugingangas hi-tech, só que de roupa preta... acho q faltou um batman mais aterrador. Pra mim poderia ser qualquer um ninja genérico de roupa preta. Faltou o morcego.
E o que diabos aconteceu logo depois da festa do Bruce Wayne depois que o batman salva a Rachel de cair da janela? O Coringa foi embora? cortou a boca de todo mundo? Afinal ele procurava pelo Harvey! E simplismente a cena dos dois pendurados cortou pro dia seguinte, como se nada tivesse acontecido.. bom. foi a minha impressão...
Como nada é perfeito: um excelente filme! Um dos poucos que deu vontade de assistir denovo.Como eu já vou pouco ao cinema, vou aproveitar as próximas chances pra ver outro.

Livia Brazil disse...

Acho qe você não podia ter explicado melhor o filme. Com certeza o melhor filme de heróis que já vi. Só discordo de uma coisa: nem todos os atores são fantásticos. O Batman de Christian Bale é forçado demais, ele precisa de umas aulinhas de atuação, urgentemente!