Hoje fui ver o penúltimo filme dele (2003), traduzido para o português como “De corpo e alma”. Em inglês, um nome muito mais apropriado “The Company”.
Um pouco como Fellini, em “Ensaio de Orquestra”, este filme me pareceu uma homenagem à profissão artística, podendo esta ser a dança ou a música orquestrada, equiparáveis ao cinema. A questão do trabalho em equipe, dos contratempos, do ensaio mesmo. Todas aquelas pessoas, aqueles equipamentos, TUDO e TODOS trabalhando em uníssono para que o resultado final seja como o esperado.
“The Company” é um filme simples. Trata da realidade de uma cia de dança e tem como fio condutor dois personagens:
Loretta (Neve Campbell) – dançarina desde pequena que sonha em ter papéis mais centrais, ama o que faz e tem que trabalhar como garçonete para se manter.
Sr. A (Malcolm McDowell) – dono da companhia, que parece irritar a todos com suas decisões unilaterais, mas acaba fazendo tudo funcionar. Chega para observar os ensaios em sua cadeira branca, como quem não quer nada, e acaba opinando em toda e qualquer coisa.
O filme é constantemente perpassado por ensaios, pequenas situações das vidas pessoais de alguns, mostrando convivências, afinidades e desafinidades, etc e, claro, as apresentações. Sejam elas solo, em dupla ou com o grupo todo.
As apresentações de dança são lindas e muito bem filmadas. Há planos de diversos ângulos e a edição soube montá-los de forma fluida e sem incômodos na imagem, nos mostrando de forma privilegiada o que estava acontecendo no palco. Todas belíssimas. São como pequenos momentos em que o mundo pára. Em que a realidade dá lugar à fantasia e tudo é bom. Eu saí do cinema querendo ser dançarina. Ser leve e forte ao mesmo tempo. Saber flutuar.
Dentre as muitas deliciosas músicas que ouvimos ao longo do filme, estas fazendo ou não parte dos repertórios das danças, a canção “My Funny Valentine” é um ótimo pano de fundo em diversas partes. Ilustra principalmente as situações amorosas da protagonista.
Neve Campbell está ótima e faz um belo trabalho como dançarina. Alguns podem não saber, mas ela já fez parte de uma companhia de dança quando era mais jovem, mas largou devido a machucados. Sua participação no filme foi muito além de mera atriz. Neve teve a idéia original da história e desenvolveu o roteiro com Bárbara Turner. Além disso, ainda foi uma das produtoras de “De corpo e alma”.
James Franco faz bem o papel de par romântico e está uma graça. E McDowell, lembrado sempre para mim como Alex, de Laranja Mecânica, rouba a cena com seu jeito mandão e autoritário ainda que gentil e simpático. Perdoamos sua antipatia pelo amor que ele tem pelo que faz.
Em relação ao desenvolvimento da narrativa, é muito bom poder identificar os problemas de relacionamento entre mãe e filha, um casal se apaixonando, um desconforto entre uns e outros, inveja ou contentamento apenas através dos olhares. Como sempre, nos filmes de Altman, observamos várias pessoas, mas sem necessariamente nos aprofundarmos nelas. Ficamos sabendo de pequenos pedaços de suas vidas e isso nos basta. É como se por duas horas estivéssemos com elas. A tela está sempre repleta de gente expressando emoções e sentimentos. Pesca quem quiser. Quem souber prestar atenção.
“The Company” é uma de suas últimas obras, que parecem mesmo uma despedida deste diretor, que morreu aos 80 anos, após ter dirigido mais de 40 filmes. É lindo observar essa história, que mostra de modo muito real a vida dessas pessoas dedicadas ao que fazem, que se sacrificam todos os dias pelo amor à arte.
Uma declaração de amor à arte. Uma homenagem simples, direta e sem grandes ornamentos desnecessários àqueles que se jogam de cabeça na profissão artística, ou melhor, que se jogam nela de corpo e alma.
Um comentário:
Meu dedo ficou cansado depois de rolar até o final do post! Raquel vc faz filmes, cinema não texto! Pare de escrever e filme! >_<
Posta no youtube não no Blogger! Eu não me importo de ver um video de 10 minutos, mas ler 10 linhas não da! T_T
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