quarta-feira, 30 de julho de 2008

X-Files - I Want to Believe

Dez anos após o lançamento do longa da série Arquivo X, e seis após o final de sua última temporada exibida na televisão, “Arquivo X: Eu quero acreditar” estréia aqui no Brasil. A mais recente produção ligada aos personagens Mulder e Scully e suas investigações sobre o sobrenatural parece uma versão maior (de uma hora e 40) de um episódio comum.

Isso, apesar de poder soar ruim, é muito bom. Não é um filme de revelações, de informações extras que apenas os grandes fãs entenderão. É um filme para leigos e adoradores. Quem já gostava terá surpresas agradáveis, verá dois de seus personagens favoritos fazendo o que eles sabem fazer de melhor e ainda uma investigação intrigante. E quem nunca viu o seriado pode ir ao cinema e tem grandes chances de gostar também, seja pelo clima de suspense, seja pelo carisma dos protagonistas.

Começamos o filme com um Mulder (David Duchovny) isolado, ainda com seus recortes de jornal e seu pôster na parede, mas agora com uma barba por fazer a vários dias e uma falta de ânimo para se aventurar em qualquer nova história do FBI. Do outro lado, temos uma Scully (Gillian Anderson) médica, exercendo aquilo que mais entende e ama num hospital gerenciado por padres. Quando os dois começam a se envolver no caso, o velho espírito investigador de Mulder toma conta e Dana teme a volta para aquela vida tão conturbada e cheia de más lembranças que os dois viveram por tantos anos.

Entretanto, é irônico notar como ela está parecida com ele em diferentes aspectos: a teimosia sendo um deles, a vontade de acreditar (na ciência), etc. E o fato dele não admitir isso a torna um pouco hipócrita. Ao acusar Mulder de estar se empenhando no caso como forma de ir atrás de sua irmã, Scully não deixa de estar certa, mas ela está também, de sua maneira, indo atrás de alguém muito querido e que se foi, quando se vê obrigada a tomar decisões durante um dilema que tem no hospital.

A temática geral é de assassinatos mal resolvidos. Algo como alguns desses thrillers em que os mocinhos têm que resolver o caso em tempo hábil, antes que todas as vítimas sejam mortas. Tal direção se aproxima mais da razão e da ciência, campos de Dana, do que de extraterrestres e situações inexplicáveis, mais interessantes para Fox. Entretanto, há uma mistura de áreas muito interessante.

Um padre, ex-pedófilo, que diz receber mensagens e visões, está tentando ajudar o FBI a achar as vítimas com suas informações e acaba mexendo com a crença tanto de um quanto de outro. Seja no aspecto da fé religiosa de Scully, que não quer acreditar que um homem com um passado condenável como o dele poderia estar sendo “agraciado” por visões fornecidas por Deus, seja no aspecto sobrenatural, quando Mulder começa a duvidar da sinceridade e da veracidade deste como médium. Seja como for, a crença dos dois, cada qual em seu ramo, está sendo comprometida e isso acaba aflorando suas diferenças e abalando seu próprio relacionamento.

Sim, relacionamento sim. Finalmente Fox e Dana podem assumir alguma relação mais constante. Com direito aos dois aparecendo juntinhos na cama, beijos de despedida e os famosos olhares enciumados. Apesar disso, não acontece o que muitos temem quando os protagonistas de uma série ficam finalmente juntos. Não há incômodo, nem uma sensação de perfeição que torna as coisas meio desisteressantes. Há sim conflito e incerteza, mas também duas pessoas que se amam muito. O filme consegue manter um certo distanciamento entre ambos, não nos dando de bandeja um casal feliz e ainda nos deixando incertos de que eles realmente podem ficar juntos.

Um dos aspectos técnicos mais marcantes foi a trilha sonora, com a saudosista música tema e sons espalhados pelas cenas, comuns de Mark Snow. Há ainda a música que fecha o filme, parecido com Radiohead, só que mais feliz.

O visual é escuro e com contrastes. Muita neve e muitas roupas cinzas e pretas.

Para finalizar, não posso deixar de mencionar, é claro, um dos momentos mais brilhantes do filme, quando, antes de entrar numa porta do FBI, os protagonistas se deparam com uma foto do presidente George W. Bush e o famoso tema musical surge. Tema usado, na minha concepção, para situações INEXPLICÁVEIS e que só podem ser entendidas sobrenaturalmente, como no caso, a ascensão do dito cujo ao poder.

Ao mesmo tempo em que vemos um suspense com bizarrices, mortes e perseguições, vemos também a história dessas duas pessoas, que lutam contra medos e tentam escapar do passado problemático para poderem ficar juntas e viver uma vida normal.

O veredicto é mais um episódio com direito a conflitos, tensões e incertezas. Talvez não seja comparável aos melhores, mas certamente foi uma forma simpática e agradável de relembrarmos os bons e velhos tempos.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Cavaleiro das trevas

É difícil falar sobre um filme que parece falar por si só.

“Cavaleiro das Trevas”, mais recente adaptação do personagem da DC, o Batman, e segundo da série dirigido por Christopher Nolan, é um dos melhores filmes que vi nos últimos tempos.

A narrativa é fantástica. Se mantem constantemente tensa, instigante e surpreendente durante as duas horas e vinte. Eu fiquei grudada na cadeira sem conseguir me mexer direito até o final dos créditos.

Como filme de herói é genial. Está fiel aos personagens da revistinha e a alguns acontecimentos espalhados por diferentes histórias, como O Longo Dia das Bruxas, Asilo de Arkham, etc. Com algumas mudanças, no intuito de que o roteiro ficasse bem fechadinho.

Desde o caráter com falhas de Bruce Wayne (Christian Bale), que apesar de toda sua dedicação para melhorar o mundo, busca desesperadamente um sucessor para que possa viver uma vida “normal”, até o maior dos vilões do homem morcego, o Coringa, podemos confirmar a fidelidade com a idéia original.

Este último, apesar de ser chamado de louco e de “freak” o tempo todo, é a voz da razão. Ele é um caos que faz sentido. É o personagem mais inteligente e que sabe interpretar todas as situações, quase sempre estando à frente de qualquer outro em seus planos. Uma das coisas que Coringa tenta mostrar é que o ser humano está a um passo da destruição e da loucura. Basta dar um empurrãozinho. E uma outra reflexão seria sua relação indissociável com Batman. Eles dois são feitos um pro outro. A existência de um justifica a do outro. Assim, a morte de um deles não faria sentido.

Todas as cenas em que o coringa faz um discurso são fortes e esclarecedoras. Ele domina toda a extensão da tela anamórfica, quando aparece. O que começa como um personagem cruel e violento se transforma numa pessoa um tanto quanto coerente e convincente. Certamente é um Joker diferente do filme de Tim Burton. Apesar da excelência na atuação de Jack Nicholson no clássico de 1989, Heath Ledger não deixa nada a desejar nesse vilão um pouco mais cru, mais sério e assustador.

Aaron Eckhart está perfeito como o defensor público Harvey Dent que se torna o símbolo de justiça e de coragem, quase como um segundo herói, só que mais próximo da realidade. Outro personagem fundamental para entendermos o funcionamento da mente de Batman e de seu entorno. “You either die a hero or live long enough to see yourself become the villain”.

Maggie Gyllenhaal é uma nova Rachel, muito mais interessante e com personalidade que aquela interpretada por Kate Holmes. Sua personagem não só é boa por si só, como também gera um conflito essencial na história, através do triangulo amoroso motor de diversos acontecimentos.

Michael Caine e Morgan Freeman, os dois veteranos, estão ótimos como sempre em seus papéis de sábios ajudantes.

Gary Oldman dá um show de atuação, como de costume. Ele, que já interpretou papéis dos mais diferentes em sua carreira, como Dracula, Guildestern (ou Rosencrantz heheh), Lee Oswald ou padrinho do Harry potter, se transforma pela segunda vez, no comissário Gordon, personagem super importante por sua cumplicidade com Batman e por sua entrega em defender Gotham.

Além da atuação impecável dos atores, do caráter fiel com a revistinha e da narrativa cheia de adrenalina, Cavaleiro das Trevas preenche diversos quesitos.

Como suspense é um filme fantástico. Cheio de surpresas, acontecimentos inacreditáveis, cenas fortes, reviravoltas e tensão.

Como um filme de ação, também, certamente. E suas explosões e colisões são bem mais aceitáveis e acreditáveis que muito filme hollywoodiano.

Além de todos esses aspectos, Batman possui também romance, comédia e drama. E ainda pode ser pensado como um filme político.

A trilha sonora é muito boa. Além de seu tema emocionante que fecha o filme de maneira brilhante, este é todo perpassado por pequenos sons aqui e ali, trechos curtos de músicas que ajudam a aumentar a tensão sempre que preciso.

A estética é bem voltada para a escuridão. Poucas cores: preto, cinza, prateado, azul. Muitos planos abertos em cenas de ação, misturados com diversos closes em momentos de aproximação entre os personagens.

Na questão dos diálogos, as “frases de efeito” fazem sentido. Não são frases jogadas simplesmente. São coisas que precisam ser ditas, e que por causa de sua força, da perspicácia embutida nelas, tornam-se excelentes frases de efeito.

Resumidamente, parece ter sido um filme de entrega de todos envolvidos. Um daqueles filmes em que todo mundo fez o melhor de si e a combinação foi excelente. E os espectadores puderam sentir isso. No final da sessão, olhei para trás, e estavam quase todos em pé ou sentados parados olhando para a tela, com olhar de deslumbre. Uma sensação muito boa de comunhão, de ter feito parte de algo fantástico passou por mim.

Um roteiro muito bem pensado, ajustado às proporções necessárias; atores muito bem escolhidos que acreditaram no que estavam fazendo como um filme sério e não apenas mais um filme de super heróis; uma impecabilidade técnica em todos os sentidos; um clima de tensão esmagador durante todo o “trajeto”; um visual próprio, ainda que realista; uma discussão contundente sobre a loucura dos dias atuais; um misto de diversas sensações; um filme completo e arrebatador.

Martian Child

“Ensinando a Viver”, de Menno Meyjes, é um filme sessão da tarde. Daqueles com um pouco de lágrimas, algumas risadas, atores cativantes e trilha sonora permanente nos indicando o tipo de emoção de cada cena.

A história é sobre um viúvo, David, que ainda não superou a morte da mulher há dois anos e que está pensando em adotar uma criança. Quando está quase desistindo dessa idéia, é conquistado por uma criança, que mostra ter vários pontos em comum com ele. Dentre os tais, a dificuldade de se sociabilizar de quando era mais novo e o forte interesse por histórias fantásticas. Um interesse, na verdade, que extrapola o “aceitável” e acaba rotulando o menino como problemático.

A grande quantidade de amor contida em David, a vontade de talvez conseguir ajudar alguém que está passando pelas mesmas coisas que passou na sua infância e o carisma misterioso do menininho são suficientes para ele decidir entrar nessa empreitada.

Jonh Cusack (David) interpreta muito bem o viúvo que se torna pai. Isso significando que ele interpreta como quase sempre nos filmes de comédia romântica ou comédia dramática: um homem sensível, com uma sinceridade atraente, alguns trejeitos que parecem improviso e uma boa presença na tela. Tudo isso parece herança de um de seus primeiros filmes, lá em 1989, de Cameron Crowe, “Digam o que quiserem”. Pra mim, um dos melhores filmes românticos já feitos.

Sua irmã, Joan Cusack (Liz) também está ótima no papel (novamente) de sua irmã. Essa química dos dois juntos, que tem se repetido em diversos filmes, funcionou mais uma vez. E como em muitos de seus papéis, um deles sendo a melhor amiga de Rob (John Cusack) em “Alta Fidelidade”, ela interpreta uma mulher neurótica e preocupada.

O menininho (Bobby Coleman) é uma graça. Um desses atores mirins fofos que interpretam o papel de uma criança prodígio e que por isso parecem bem mais velhos e soam irreais. Apesar dessa descrição “pessimista”, nesse caso, a escolha funcionou bem, por ser esse o caminho para o qual o personagem realmente deveria caminhar. Além disso, o ator mantem uma ingenuidade e uma teimosia tão genuínas, que lhe trazem de volta ao mundo juvenil e acreditável.

Amanda Peet (Harlee) é uma velha amiga de David e de sua falecida mulher. Está sempre próxima, apoiando e ajudando o amigo. Desde a primeira cena já fica estabelecida a forte afinidade entre os personagens e é interessante como o filme se desenvolve em torno desse assunto velado que quase nunca se efetiva. É interessante também ver como a história deles dois realmente permanece como um sub-plot, não se tornando mais um caráter de fantasia onde tudo dá magicamente certo e nem desviando a atenção do espectador do tema que realmente importa: a relação David / Dennis.

O elenco tem direito até à participação especial de Angélica Houston, como uma gananciosa editora, preocupada em criar uma saga de sucesso a partir de um primeiro livro de David.

Num quesito mais técnico, a decupagem de planos é comum desse gênero: muitos planos conjunto mostrando o todo da situação, alguns planos fechados em momentos mais significativos, mais emotivos (quando os personagens estão se tornando mais próximos, por exemplo), plano/contra-plano, etc.

Um dos méritos narrativos do filme é que ele cria tão bem a relação dos dois, que o fato da “fantasia” ser ou não real torna-se irrelevante. Eu, particularmente, acreditei nessa possibilidade, mas em um determinado momento, somos levados a crer que tudo era ficção inventada pelo menininho, como resposta a suas carências e a sua insegurança num mundo que já o tinha abandonado duas vezes.

Em resumo, “Ensinando a viver” é um filme narrativa e tecnicamente careta, mas que consegue trazer uma discussão interessante sobre as dificuldades de se criar um filho, ou ainda, de se deixar apegar por alguém, com todos os riscos que isso pode apresentar. O filme é isso. Essa busca de entendimento, confiança e amor entre duas pessoas muito sensíveis que se conhecem em momentos frágeis de suas vidas. E nesse caminho, outras questões são perpassadas como: a perda e a separação, a dificuldade de se viver o presente e esquecer o passado, mas principalmente, a dificuldade de sermos nós mesmos.


PS: para os que não ficarem até um pouco mais nos créditos, ou não prestarem atenção, essa é uma história baseada em personagens e eventos reais, que deu origem realmente ao livro “Martian Child”.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Hancock

Hancock é um filme estranho. Começa de uma maneira, com potencial pra seguir várias direções e se mostrar criativo em quase todas elas, apesar de um pouco forçado e acaba indo para um lado completamente absurdo e decepcionante.

O filme já demonstra problemas nos primeiros vinte minutos, quando os personagens de Will Smith e Charlize Theron se encontram e trocam olhares exagerados durante longos planos, em mais de uma cena, como se o diretor achasse que nós somos burros e quisesse soletrar que os dois tinham algum relacionamento prévio. Assim, alguns palpites de como a narrativa vai se desenrolar já podiam ser feitos, mas eu ainda esperava algo mais interessante, menos caótico e sem nexo algum, como efetivamente o desenrolar é. Além disso, os efeitos especiais são toscos e a atuação de Smith, que não chega a ser ruim, é a pior dos últimos tempos.

Hancock começa com uma premissa interessante: um super herói bêbado, mal educado e com um temperamento curto que quase atrapalha mais do que ajuda quando tenta resolver uma situação qualquer de perigo. Ou seja, ao contrário do que esperamos de um herói, ele não tem consciência, nem moral. Mas em vez do diretor desenvolver alguma história criativa e interessante com isso, como ele tentando se adaptar, mas tendo dificuldades ou pelo menos se focando mais nesse aspecto diferente, ele explora um romance impossível besta com uma explicação nem um pouco plausível ou satisfatória. Com direito a dupla identidade que se mostra através de maquiagem pesada, ou seja, “quando sou herói uso lápis no olho”. Faça-me o favor.

O que começa como algo mais mundano:

um cara muito forte, invencível (pode-se dizer), mas com uma personalidade cheia de falhas, faz o papel de herói, meio a contragosto, por causa dessa característica de origem inexplicável e acaba não sabendo lidar com suas responsabilidades...

...vai para um outro nível de absurdo e irrealidade que não se sustenta.

O melhor personagem é Ray Embray, interpretado por Jason Bateman. Um homem de relações públicas que quer mudar o mundo tentando convencer empresas a colaborarem um pouco em troca de um símbolo que as fariam parecer engajadas em causas sociais, ganhando crédito e apreço da população preocupada. Enfim, um homem que tenta fazer milagres em relação a grandes empresas que não se importam com o que ele está tentando fazer.

O filme ganha alguns pontos por tentar passar uma mensagem positiva, mostrando praticamente que Ray é o verdadeiro herói, uma pessoa simples que faz o que está em seu alcance para melhorar o lugar onde vive.

Mas estou sendo um pouco injusta. O filme de Peter Berg tem várias cenas engraçadas e a personalidade de Hancock gera empatia, nos fazendo acompanhá-lo em suas ações e querer seu bem. Além disso, o menininho (Jae Head) é uma graça.

Se pensarmos em “Hancock” como um filme B de super heróis, acho que o resultado é bom, porque ele não estaria se levando a sério e sim tentando divertir e gerar cenas absurdas com efeitos dramáticos e visuais. Eu tentei vê-lo dessa forma. Sem pretensões. Apenas brincando com os clichês das produções desse gênero. E consegui me divertir. Mas não vá esperando nada mais elaborado que isso!